O gesto do senador Roberto Requião em tirar o gravador das mãos do jornalista Fábio Marçal, recentemente, em Brasília, continua rendendo. Como divulgado, o político não gostou quando o réporter fez uma pergunta sobre a pensão que Requião, ex-governador do Paraná, recebe mensalmente. Paloma Amado, filha do escritor Jorge Amado, tem uma história que aconteceu entre sua família e Requião. Segue o texto de Paloma, na íntegra:
“Era 1998, estávamos em Paris, papai já bem doente, participara da Feira do Livro e recebera o doutoramento na Sorbonne, o que o deixou muito feliz. De repente, uma imensa crise de saúde se abateu sobre ele, foram muitas noites sem dormir, só mamãe e eu com ele. Uma pequena melhora e fomos tomar o avião da Varig (que saudades) para Salvador. Mamãe juntou tudo que mais gostavam no apartamento onde não mais voltaria e colocou em malas.
Empurrando a cadeira de rodas de papai, ela o levou para uma sala reservada. E eu, com dois carrinhos, somando mais de 10 malas, entrava na fila da primeira classe. Em seguida chegou um casal que eu logo reconheci, era um político do Sul (não lembro se na época era senador ou governador, já foi tantas vezes os dois que fica dificil lembrar).
A mulher parecia uma árvore de Natal, cheia de saltos, cordões de ouros e berloques. É claro que eu estava de jeans e tênis, absolutamente exausta. De repente, a senhora bate no meu ombro e diz: “Moça, esta fila é da primeira classe, a de turistas é aquela ao fundo.” Me armei de paciência e respondi: “Sim, senhora, eu sei.” Queria ter dito que eu pagara minha passagem enquanto a dela o povo pagara; mas não disse. Ficou por isso. De repente, o senhor disse à mulher, bem alto para que eu escutasse: “Até parece que vai de mudança, como os retirantes nordestinos.” Eu só sorri. Terminei o check in e fui encontrar meus pais. Pouco depois, bateram à porta, era o casal querendo cumprimentar o escritor. Não mandei a putaquepariu, apesar de desejar fazê-lo. Educadamente disse não.
Quando vi na TV o senador dizendo que foi agredido por um repórter, por isso tomou seu gravador, apagou seu chip, eteceteraetal, fiquei muito retada, me deu uma crise de mariasampaismo e resolvi contar esse triste episódio pelo qual passei. Só eu e o gerente da Varig fomos testemunhas desse episódio, meus pais nunca souberam de nada.”