Uma tragédia como a que aconteceu na Região Serrana do Rio (Teresópolis, Friburgo e Petrópolis), esta semana, matando centenas de pessoas, leva-nos a um grande momento de reflexão. Não falo aqui em reflexão pelas perdas em si, irreparáveis, sem dúvida, pois trata-se dos mais variados cidadãos (adultos e crianças), mas pela perda da sensação de que quem tem dinheiro esteja livre de certas tragédias. Contra assalto, existe o carro blindado; contra o trânsito, o helicóptero; contra o avião coletivo, o particular; contra a casinha frágil da encosta, o casarão seguro e forte. Não é bem assim.
É como se viesse à cabeça das pessoas mais poderosas que ninguém é inatingível, inabalável, inacessível, e que nada garante a imunidade. Uma consciência de que poderia ser com elas, uma consciência de que com o metafísico ninguém pode, uma consciência de que muita coisa a gente não tem como comprar, como comandar, como controlar. Junto a isso, pelo menos por uma fase, a maioria melhora em suas atitudes, tornando-se mais humanas. Pode acontecer com qualquer um, apesar do dinheiro, das propriedades, do poder – nada disso tira a vulnerabilidade de ninguém: o próximo momento é cego, para todo mundo.
Tendo ou não dinheiro, nada é garantido, todos passam a enxergar isso, esse sentimento vem à tona, fica reavivado. É o óbvio, mas, muitas vezes, não nos damos conta disso. Está implícito que aí tem uma mensagem: a de que o “material” é muito vulnerável. Numa hora como esta, todos ficam mais sensíveis a outro tipo de preenchimento e se abrem mais para a amizade, o perdão, o amor, a tolerância etc. Mesmo sem perceber, mudam de comportamento, as abstrações com o outro são relativizadas. Apesar de essas sensações serem passageiras, dá um certo prazer perceber que muitos estão vendo o que sempre esteve na cara de todos. É um momento muito propício para mudanças, mas que não sejam tão efêmeras como as tempestades.