Existe uma grande diferença entre Tim Maia e Amy Winehouse: ele não aparecia; ela aparece, mas não canta, enrola. Nessa terça-feira (11/01), no HSBC Arena, tudo que Amy fazia era aplaudida; alguns estavam pouco se importando – afinal, não foram ali para ouvi-la, isso era detalhe. Queriam mesmo era vê-la. Vê-la beber no palco, vê-la dançar, vê-la cambalear, vê-la esquecer letra de música, vê-la ajeitar o aplique que insistia em sair do lugar, enfim, ver qualquer coisa, desde que feito pela dona daquela bela voz.
Qualquer gesto, situação, atitude passavam a ser algo muito importante para aquele público. Amy, talvez meio consciente de tudo isso, repetia com frequência “Rio”, “Rio”, “Rio”, como se estivesse se desculpando. Era suficiente para a plateia enlouquecer. Todo mundo sabe que essa palavra soa para o carioca como se estivesse ouvindo seu próprio nome, como se cada um ali estivesse recebendo uma homenagem. Cada repetição era um delírio.
Uma psicanalista, que assistia a tudo, em um dos camarotes organizados por Liège Monteiro, disse ter amado o show; nesse caso, vale o registro, a moça fez questão de frisar: “Sou surda”. Só aquela presença no palco a deixou emocionada. Outros, de ouvidos bem perfeitos, também elogiaram o espetáculo, como Carlos Henrique Schroder (diretor de jornalismo da Rede Globo): “Muito bom o show”, disse ele. Havia ainda alguns revoltados com frases do tipo: “Isso foi uma enrolação”. Como dá pra ver, é sempre uma questão de ponto de vista. O fato é que ela cantou algumas músicas inteiras no começo do show, mas, do meio pro fim – bem, como dizer? -, entoava um verso aqui, outro acolá, abraçava muito dois ou três participantes da banda (como se estivesse bastante carente), dançava um pouco, bebia em cena, tropeçava no fio do microfone e só recebia aplausos, muitos aplausos.
Na vida, a gente vai adquirindo alguns direitos, seja pela loucura, seja pelo talento, seja por ambos… De todo jeito, o show foi considerado melhor que o do dia anterior. Viva!