Uma jornalista desceu do carro para cumprimentar um policial, esta semana, nas proximidades do prédio antigo da Rede Globo, na Rua Von Martius, no Jardim Botânico. Nem precisou dizer o porquê de parabenizá-lo, nem ele perguntou, nem ela falou, ambos sabiam. O sorrisão aberto pelo Sargento Nascimento (isso mesmo, ele não é Capitão, mas é Nascimento, como no filme “Tropa de Elite”, tão falado na imprensa nos últimos dias) demonstrou a alegria que aquele profissional sentiu com um gesto tão simples. O Rio inteiro poderia lançar uma campanha espontânea de “Louvor à polícia carioca” pela sua vitória sobre o crime organizado, com a operação do Morro do Alemão. José Mariano Beltrame, certamente, está sendo cumprimentadíssimo o tempo todo, o que é justo, mas e os policiais? Talvez só recebam cumprimentos do próprio Secretário de Segurança. Vamos elevar a autoestima da polícia carioca, quase sempre tão mal falada na cidade (às vezes, dando fortes razões pra isso), é fato, mas vamos fazê-los repensar suas atitudes, vamos recompensá-los com elogios, vamos deixá-los notar que somos gratos. Pode ser um caminho de reconquista da polícia, que não se livrou dos erros cometidos no passado (quem não os tem?), mas pode ser uma injeção de ânimo para não repeti-los, pode não ser ainda a polícia desejada, mas foi a que realizou o desejado – por milhões de cariocas e brasileiros. Que, aliás, conseguiu muito mais: tirou da cabeça de muita gente que o bandido é invencível, que o bandido é herói, que o bandido é inexpugnável, exatamente aquele bandido que agora talvez esteja em fuga desordenada. E por que não perguntar: é o bem vencendo o mal? A hora é ainda o ideal para a presidente, o governador, o prefeito, ou seja lá quem for, aumentar o salário dessa classe; afinal estamos falando do Rio de Janeiro, uma das grandes – senão a maior – vitrine do País. Pensando bem, enquanto os políticos (grande parte, corrupta) ganham o que ganham sem arriscar a vida, os policiais, vão pra linha de frente, para, ao fim do mês, receberem um salário incompatível com todo o seu destemor… o que nos leva a pensar que cumprimentos e elogios enaltecem (já é um primeiro passo) mas não sustentam uma família. E preciso também premiar os melhores: a meritocracia é necessária e urgente. O momento psicológico está favorável para reverter a imagem da polícia. Palmas para ela. Se tudo que aconteceu nos últimos dias no Rio fosse na tela do cinema, todos diriam: só mesmo na ficção. Não, de jeito nenhum! Talvez seja o momento adequado para a polícia transformar sua própria imagem, não apenas pelo soldo, agora pelo saldo.