Essas frutas que, vez por outra, aparecem servidas no Hortifrutti, colocadas ali para os clientes provarem e, claro, sentirem como são boas, muitas vezes equivalem a uma refeição para muitos famintos que circulam pelos bairros onde existem as lojas. No caso, a foto recente é no Leblon. Eles ficam ali espreitando os seguranças e, quando têm oportunidade, entram com todo o cuidado e comem numa pressa danada, para não serem pegos e expulsos. Outros entram, comem e saem correndo, sem disfarces. Parece que alguns seguranças fazem vista grossa – no fundo, talvez, até lhes deem boas-vindas de um jeito silencioso, por saber que estão esfomeados. É tudo percebido, mas fingem não notar – quem sabe, desconfiam da intenção, mas ficam contidos. Nesse feriado, foi observado um olhar de desejo e fome de um morador de rua que circula pela área, na direção de uma manga-rosa. Um olhar tão impressionante que talvez fosse o caso de ele pedir direito autoral, caso tivesse sido filmado. Não há diretor de cinema que consiga algo parecido, de jeito nenhum, por uma simples razão: tanto o olhar quanto o desejo eram dolorosos. Ainda que algum ator ficasse sem comer dois ou três dias para gravar tal cena, a segurança de que depois poderia saciar a sua vontade, diferentemente daquele pobre homem da Zona Sul do Rio, faria a diferença. Câmera nenhuma captaria a fome com aquelas nuances. Trata-se de um momento sagrado para os miseráveis, sejam homens, sejam mulheres, sejam crianças!