A maioria dos políticos está acostumada a dizer o improvável, a falar coisas nem sempre verdadeiras. Isso todo mundo sabe. Já os médicos, com algumas exceções (como tudo na vida), normalmente, não estão habituados a essa rotina. Diante disso, o oncologista Jacob Kligerman tem razão em estar indignado com as declarações do Presidente Lula, afirmando que ele teria participado de uma farsa quando examinou José Serra, esta semana, depois do objeto atirado na cabeça do ex-ministro. O fato de o médico e o candidato à Presidência serem amigos desde os tempos da UNE (União Nacional dos Estudantes) não faria alguém com o percurso profissional de Kligerman ser leviano a ponto de dar um diagnóstico falso a quem quer que seja, independentemente dos laços de amizade, como os que mantém com Serra. Pelo menos, não é o que sugere seu currículo (membro da American Head and Neck Society, membro do American College of Surgeons, membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, ex-presidente do Instituto Nacional do Câncer, ex-Secretário Municipal de Saúde do Rio, entre outros tantos títulos). Sem dizer ainda que seria uma enorme burrice dar uma declaração inverídica com um assunto de interesse público e capas de todos os veículos. A sorte, digamos assim, é que o carioca Kligerman é dono de vida pública inatacável na sua área, e, com base nisso, a gente pode imaginar que não se prestaria a tal papel. Se fosse um desconhecido, talvez corresse o risco de ver sua credibilidade ir ao chão – o que, muitas vezes, não é fácil de reverter, tanto quanto difícil de construir. Eleição e bate-boca são da ordem do efêmero; abalar a carreira de um profissional que se fez por si, com muito trabalho, não. Lula não pode responder pelos atos violentos de petistas fanáticos (como aqueles que, com más intenções, estavam no calçadão de Campo Grande, no Rio); já o que sai de sua boca é única e exclusivamente de sua responsabilidade. O comportamento que acometeu o Presidente, visto nos telejornais, pega bem para quem ocupa o seu cargo? O fato é que Lula parece ter muita dificuldade em suportar qualquer frustração, o que é incomum em alguém de origem humilde e tão sofrido quanto ele. Esse tipo de revolta, essa agressividade, essa raiva, demonstradas por Lula pode trazer em troca muitas doenças e, se o Presidente fosse acometido pela mais séria delas (Deus queira que não), certamente iria querer ouvir a opinião de Kligerman, já que não deve ignorar sua competência e seriedade – pelo menos, é o que denota sua vida dedicada à medicina desde 1960. Lula foi impiedoso, Lula foi cruel, Lula foi perverso com um grande médico.