Repara nas pessoas antes de elas entrarem num show como foi o “Gilberto Gil Convida”, nessa quarta-feira, no Teatro Tom Jobim, comemorando os 10 anos da Rádio MPB FM: na entrada estão com uma cara; na saída, com outra. Outra cara, outro comportamento, outro espírito. Falando nisso, o show fez lembrar esses encontros espirituais quando, entre o fim e o começo do evento, o semblante de todo mundo se transforma. Gil recebeu 10 convidados que iam dos Paralamas do Sucesso à filha Preta Gil (que dançou sentada o tempo todo, num longo todo brilhante), de Milton Nascimento a Zeca Pagodinho, no caso destes dois, foi difícil saber qual o mais aplaudido, tão difícil quanto descobrir entre eles quem tem a maior barriga – tão grande quanto o talento de ambos. Entre pensamentos sem importância como esse, entra no palco Dona Ivone Lara. Todo o teatro se levantou e, enquanto Gil a elogiava, ela, num gesto espontâneo, disse, meio que o interrompendo: “Vumbora”, como que ansiosa para começar a cantar. Ela canta como faz Washington Olivetto nas entrevistas, como se estivesse no banheiro de casa, ou seja, a presença da plateia não muda nada. Enquanto Dona Ivone, com sua voz límpida, dizia: “Recomeçar jamais, você não vê que ficou pra trás…”, foi aplaudida de pé. Outro momento alto foi da Mart’nália, sempre com jeito de moleque. Fez gracinha com toda a banda; seu figurino deixava à mostra as guias de santo sob a barra da camisa, tão longas elas eram – o que deixou uma socialite intrigada: “Por que usar ‘colares’ tão compridos e dentro da blusa?” Que tal? As perguntas tolas passando, e Mart’nália sambando: ninguém samba com a leveza dela. Quanto ao Gil, cantou junto a alguns convidados e a outros tantos, não, só acompanhando com o violão, o que de repente o colocou fazendo parte da banda para Ana Carolina, Maria Gadu, Lenine ou Erasmo Carlos. Isso não é pouca coisa! A noite foi caminhando sem ninguém sentir, de tão entretidos com o melhor da MPB. Bela festa promovida por Ariane Carvalho, presidente da rádio. Seu pai, Ary de Carvalho, deve ter sentido orgulho da filha, esteja ele onde estiver. No cenário atrás do palco, nomes dos maiores artistas da música brasileira de todos os tempos decoravam a parede: dos vivos, dos mortos e dos que nunca morrerão.