“O que nos mantém vivos” comemora 65 anos de carreira de Renato Borghi (87 anos em março), no Espaço Sérgio Porto, no Humaitá. Foi um fim de semana de alta rotatividade e plateias lotadas para assistir ao ato-espetáculo-musical, com direção de Rogério Tarifa e roteiro de Élcio Nogueira Seixas, que critica o autoritarismo e, acima de tudo, uma comemoração à vida: Borghi passou por uma diverticulite, operou quatro vezes a coluna e fez uma cirurgia cardíaca às pressas, mas mantém grande mecânica corporal. “O título foi a pergunta que me fiz antes do começo dos ensaios, quando tive a experiência radical de meu coração ter sido arrancado e colocado sobre uma mesa fria. Tive vontade de colocar meu coração toda noite sobre o tablado para fazer essa pergunta ao público. É uma peça de sobrevivência — mas não só a minha”, diz ele.
O espetáculo, que estreou em novembro e passou por vários endereços de SP, teve muita repercussão no Teatro Oficina, por ser a volta do ator ao local que ajudou a fundar 50 anos depois, por divergências com seu ex-parceiro teatral José Celso Martinez Corrêa, morto num incêndio em julho passado, meses antes da estreia. Eles também foram casados por 14 anos, até 1973, quando saiu do Oficina.
No dia 1º, o homenageado da noite foi Amir Haddad, que também ajudou a fundar o Oficina; no segundo, o ator Matheus Nachtergaele, muito amigo de Borghi.
A montagem é uma espécie de continuação de “O que mantém um homem vivo?”, clássico dos palcos, criado em 1973 por Borghi e Ester Góes como resistência à ditadura militar. Brecht foi escolhido justamente pela capacidade de elaborar sua crítica feroz através de estruturas sofisticadas e repletas de humor.