No começo, era apenas água e areia; depois, veio a sujeira; e, por fim, a espuma pavorosa, que estampou a primeira página de todos os jornais. Os cariocas ainda não entenderam muito bem o que aconteceu – muitos questionam a explicação oficial, sobre um “fenômeno natural” -, mas demonstram certo bom humor até quando sentem-se inibidos a dar um bom mergulho para fugir do calorão de 40 graus. Nas redes sociais, teve gente sugerindo que o novo garoto-propaganda da cidade é o “Porquinho do Rio”.
Não, qualquer semelhança com a canção de Caetano Veloso não é mera coincidência. Vejam só a versão de “Menino do Rio”, postada por um amigo do Facebook: “Porquinho do Rio, fedor que provoca arrepio, sujeira por todo o espaço, que porcão! Detesto ver-te”. Naquele que dizem ser o País da piada pronta, é melhor usar graça para protestar, não é?
Nesta terça-feira (07/01), a espuma amarelada já tinha ido quase toda embora, tão misteriosamente quanto surgiu. O Inea (Instituto Estadual do Ambiente) avaliou que o fenômeno foi causado pela “decomposição de algas, que aparecem com frequência no verão e resultam de fatores como temperatura e insolação elevadas, combinadas com mar calmo e nutrientes na água”.
Flagrantes como este, embora considerados inofensivos pelas autoridades, assustam os moradores do Rio, os turistas e até quem espera disputar aqui as Olimpíadas de 2016. A preocupação não é de hoje; no mês passado, velejadores que vieram conhecer os futuros locais de competição classificaram as águas cariocas como as mais poluídas que já tinham visto no mundo.
A desconfiança ganha coro nas areias. Um morador de Copacabana comentou: “Se a culpa é sempre das algas, por que nada disso acontece em Búzios, Cabo Frio, Angra dos Reis ou no litoral paulista? Essa alga não tá pura”. A suspeita explica-se: quase 70 por cento de todo o esgoto produzido no município do Rio chega ao mar, aos rios e às lagoas sem tratamento. Alguma coisa não está cheirando bem nessa história, como diria o “Porquinho do Rio”.