Contra vendavais e mares turbulentos, obviamente por causa da pandemia, a Semana de Moda de Paris saiu-se muito bem, com todas as regrinhas básicas, apresentações digitais e alguns desfiles físicos com poucos convidados.
A grande maioria dos fashionistas estava curiosa para saber a direção que a moda iria tomar pós-pandemia, mas, pelas coleções apresentadas, podemos observar que, em algumas marcas, a questão da proteção ficou evidente.
Estilo e proteção apareceram juntos nos looks de marcas, como Kenzo imitando as vestimentas dos apicultores; já Rick Owens, como era de esperar, usou a criatividade de maneira moderna; a estilista Marine Serre, que sempre foi considerada uma captadora do momento atual, também mostrou uma coleção superprotegida e com a estampa que a tornou famosa; os vestidos em formato de bolas do estilista Harpen também remetem às bolhas transparentes usadas em alguns lugares como proteção — a apresentação do estilista foi uma homenagem aos profissionais da Saúde, que trabalharam duro durante a pandemia, um casting de enfermeiras, caixas de supermercado e assistentes sociais. Bacanérrimo. Um fato muito interessante é que rolaram vários desfiles inclusivos na seleção das modelos.
No mais, a criatividade estava em coleções belíssimas, na passarela da Balenciaga, com a elegância francesa incontestável na Hermès, a feminilidade poética no desfile da Dior, com seus vestidos e saias de tules bordados, as variações do quimono de luxo; a alegria urbana no desfile da estilista preferida das parisienses descoladas, Isabel Marant; os paetês da Paco Rabane, característica da marca revisitados em looks hipermodernos; a atitude cool da coleção da Chloé; a modernidade luxuosa da Loewe; a volta das ombreiras chiques da Balmain e sua nova logomarca; a moda urbana e inclusiva da Koché; as estampas e formas fluidas poéticas do Dries Van Noten; a explosão de cores e formas da Issey Miyaki; a assimetria luxuosa da Givenchy; os maravilhosos vestidos Alexandre Vauthier; os figurinos poderosos do estilista Alexis Mabille usados com tênis; e as modelagens e proporções sempre incríveis em looks preto e branco, escuridão e luz do mestre Yohji Yamamoto; o estilista Elie Saab, mesmo sua loja tendo sido destruída pela explosão em Beirute, no Líbano, apresentou uma coleção primorosa de lindos vestidos de festa. Como vocês podem notar pelas imagens, o rosa é a cor do verão 2021.
Selecionei algumas fotos pra vocês:
Issey Miyaki: o estilista japonês Satoshi Kondo criou uma instalação na fábrica da marca e transmitiu o evento digitalmente, com uma coleção chamada “Unpack The Compact” (desempacotando o compacto), que caberia numa única caixa: “Esta coleção explora a ideia de fazer as roupas viajarem de forma compacta pelo mundo, para para compartilhar a maravilha e a alegria de desempacotá-los. As roupas apresentam uma infinidade de possibilidades criativas para além da utilidade e do conforto /Fotos: ReproduçãoLooks da Chloé: o Palais de Tokyo foi o cenário do desfile “A Season in Hope” (“Uma Temporada de Esperança!”). O foco da marca foi se basear em elementos de temporadas anteriores, com foco na redução, considerando, claro, a sofisticação característica da grife. Inspirada nas mensagens de justiça da freira Corita Kent, frases como “Eu dou conta disso” ganharam destaque nas estampas, além de rendas delicadas, corte reto e as tradicionais referências dos anos 1970 /Fotos: ReproduçãoSchiaparelli: em sua terceira coleção de ready-to-wear, Daniel Roseberry se propôs a criar um equilíbrio entre o surrealismo, que era a assinatura da lendário designer, e o cotidiano. Nas fotos do look book e no vídeo dos bastidores que a marca produziu, a extroversão aparece nitidamente nas bijoux douradas, com destaque para os óculos com olhos esmaltados no centro (na terceira imagem), máscaras que cobrem o nariz e a boca, garras nas pontas dos dedos e até botões de mamilo (na segunda imagem) /Fotos: Reprodução
Dries Van Noten: o estilista belga lançou, junto com Serre, um manifesto por uma moda mais responsável, assinado por centenas de marcas pequenas que se comprometeram a produzir menos e a repensar os seus desfiles, desde os custos econômicos até aos ecológicos. A coleção foi apresentada por vídeo – os modelos faziam uma coreografia enquanto a iluminação mudava e imagens eram projetadas /Fotos: ReproduçãoKoché: Christelle Kocher criou sua marca há cinco anos e apresentou, mais uma vez, uma fusão perfeita entre o sportswear e a alta costura francesa. Vestidos justos, vestidos com camisa jeans, corpetes com calças de cintura alta, roupas com babados e penas, sutiãs esportivos, boxers com acabamento em renda e lindos vestidos com capuz. Nos looks masculinos, shorts com estampa ácida e sapatos e sandálias combinando, jaquetas jeans com estampa floral e blusas de seda em estilo veterano do Vietnã sobre calças de moletom /Fotos: ReproduçãoLoewe, de Jonathan Anderson: o desfile foi chamado de “Show-on-the-Wall” (“Desfile na Parede”), com os figurinos apresentados por meio de um papel de parede, desenhado pela artista Anthea Hamilton, com fotos de Thue Nørgaard. Funcionou assim: a marca enviou uma caixa às pessoas selecionadas e, dentro, um conjunto de elementos que foram montados individualmente pelo destinatário e colados numa parede, com as fotos das modelos em tamanho real. Nas composições, modelagens amplas e exageradas, drapeados, volume, transparência, formas bufantes e sobreposições de tecidos /Fotos: Reprodução
Yohji Yamatomoto: aos 77 anos, o estilista continua em forma. O desfile aconteceu num lounge da prefeitura de Paris. O clima, como todos os desfiles da grife, teve uma atmosfera séria, solene e misteriosa. Depois dos ternos e casacos brancos, cinzas e pretos, surgiu uma sucessão de vestidos com cestas de metal na cor cobre, uma referência no início do século XVIII, nos dias de glória da monarquia francesa /Fotos: ReproduçãoOs looks de Paco Rabanne com designs impecáveis, tons frios e figuras retas. Destaque para o vestido de malha metálica inspirado na armadura medieval da cabeça aos pés /Fotos: Reprodução Os looks impressionantes de Alexis Mabille /Fotos: Reprodução
Elie Saab: a nova coleção foi criada no Líbano, assim como o vídeo gravado e editado naquele país. Com o título “Hymne à la Vie” (Hino à Vida), o vídeo mostra a beleza intocada das montanhas, suas rochas gigantescas e prados secos de alta altitude contrastando com a feminilidade da coleção /Fotos: ReproduçãoOs looks de Michael Halpern falam por si. Criativos e exuberantes! /Fotos: ReproduçãoOs figurinos de Marine Serre: “Um ciclo de eventos e encontros atemporais é realizado por personagens místicos que imergem o espectador em seu mundo”. Com essa frase foi apresentada a coleção virtual da marca. O vídeo, intitulado “Amor Fati”, foi dirigido por Sacha Barbin e Ryan Doubiago. As estrelas do conteúdo são Sevdaliza e Juliet Merie, com styling assinado por Benoit Bethume. A icônica estampa de lua, símbolo da etiqueta, está lá /Fotos: Reprodução
Kenzo: o estilista português Felipe Oliveira Baptista criou sua segunda coleção para a marca, com inspiração nas abelhas. A apresentação começou com a foto orgânica dramática de uma colmeia selvagem, seguida de uma equipe de “apicultoras”, direto do roseiral do Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris. “Depois dos altos e baixos e dos medos durante o confinamento, acredito que todos estamos pensando em proteção. Mas, também estamos muito otimistas para sair desse momento”, explicou Oliveira. /Fotos: ReproduçãoOs looks de Rick Owens: na coleção “Phlegethon”, em homenagem a um dos cinco rios do submundo na mitologia grega, o estilista definiu os trajes como uma espécie de “alegria sombria”, com clima misterioso contrastando com cores suaves, sem deixar de lado o vermelho vibrante. Gravado na praça em frente ao Casino de Veneza, o evento não teve público, com transmissão ao vivo /Fotos: ReproduçãoOs looks sóbrios da Hermès /Fotos: ReproduçãoOs looks Vauthier /Fotos: ReproduçãoOs looks Balenciaga, do diretor criativo Demna Gvasalia: o objetivo era mostrar um guarda-roupa usável para as “ruas escuras durante uma época em que a Fashion Week costumava iluminar Paris” /Fotos: ReproduçãoOs looks da Dior: num ambiente “simultaneamente sagrado e profano”, como definiu a marca, foi retratada a obra Vetrata di Poesia Visiva, da artista visual Lucia Marcucci, de Florença. No cenário, havia 18 espécies de janelas de acrílico iluminadas, cada uma com 7 metros de altura. O propósito de Maria Grazia Chiuri foi revisitar os vitrais coloridos das catedrais góticas. A estética campestre estava presente remetendo ao estilo cottagecore; tudo a ver com simplicidade e referências bucólicas; modelagens delicadas, bordados, babados, listras e estampas vintage garantiram o clima /Fotos: ReproduçãoIsabel Marant: a estilista fez um desfile presencial no Palais Hoyal, e causou aglomeração, com direito a festa e participação do grupo de dança (La)Horde. A decisão da marca afrontou as recomendações da OMS. Modelos e dançarinos percorreram a passarela ao som de “I Feel Love”, de Donna Summer e, num determinado momento, vários se abraçaram. Na coleção, o clima disco com um toque boho inspirada nos extravagantes anos 1980, com destaque para o prata e rosa /Fotos: ReproduçãoBalmain: a marca comemorou 75 anos na pandemia com um desfile que homenageou seu fundador, ao ar livre, no Jardin des Plantes. Na primeira fila, as clientes de sempre: Cara Delevingne, Maluma, Alessandra Ambrosio, Juliette Binoche, María Pedraza, Cindy Crawford, além de pessoas ligadas à moda. O diretor artístico Olivier Rousteing convidou modelos veteranas, como a francesa Inès de la Fressange, que desfilaram ao som de “My Way”, de Frank Sinatra. Rousteing reinterpretou o logotipo da marca dos anos 1970 (uma referência à paixão de Pierre Balmain pelos labirintos dos jardins franceses), que estampou em boa parte das peças. A protagonista foi a bermuda ciclista, usada com blazers de ombreiras pontiagudas. O cinza dominou, alternando-se com peças flúor, esportivas e jeans. O show foi fechado por um grupo de “sereias” com vestidos fluidos caminhando descalças. Bravo! /Fotos: ReproduçãoOs looks da Chanel apresentaram silhuetas mais jovens e extremamente femininas, direto do interior do Grand Palais, o último desfile dos nove dias de semana de moda. A estilista Virginie Viard imprimiu suas ideias num vídeo em preto e branco, chamado “Lights, Camera, Action!” (Luzes, Câmera, Ação!), filmado pela dupla holandesa Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin, lançado na noite anterior ao espetáculo. Numa exibição de modelos 3D e drones, a dupla substituiu a famosa placa de Hollywood por Chanel, e deslocou o Sacré Coeur e a Torre Eiffel para Los Angeles, numa menção ao cinema, claro. “Visto que será o último espetáculo no Grand Palais, quis prestar homenagem a todas as grandes apresentações de Gabrielle Chanel e Karl Lagerfeld, que aconteceram aqui nos últimos 20 anos”, disse Viard. Lindíssimo! /Fotos: ReproduçãoA coleção da Louis Vuitton, do diretor criativo Nicolas Ghesquière, é surpreendente, de tão moderna, jovem, extravagante e linda! Bravo! /Fotos: Reprodução
A coluna faz uma homenagem ao estilista franco-japonês Kenzo Tanaka, que morreu no domingo (04/10), aos 81 anos, vítima da Covid. Querido por todos no mundo da moda, grande festeiro, sempre sorrindo, Kenzo marcou a moda internacional com um trabalho impecável e suas estampas gráficas e florais. O estilista soube impor-se com seu estilo inconfundível na moda parisiense. Em plena semana de moda, a notícia deixou a moda de luto. Descanse em paz!
No burburinho reduzido da semana de moda, Anthony Vaccarello, diretor artístico da Saint Laurent, trouxe à tona o ex-estilista austríaco Helmut Lang ao escolhê-lo para colaborar com obras exclusivas para a Rive Droite – loja-conceito da grife em Paris.
Helmut usou o acervo de materiais de Vaccarello, como protótipos de roupas e acessórios, vestimentas e joias inacabadas, para recriar, com uso de resina pigmentada e moldados em alumínio novos significados com assinatura orgânica e artística de Lang. As peças ficarão em exposição até o dia 30 de outubro, em Paris, e depois vão para Saint Laurent Rive Detroit, em Los Angeles, onde ficam até o final do ano. Bacanérrimo!
Mesmo sem os clientes internacionais, vários showroons mantiveram as datas de atendimento para apresentação da coleção e os desfiles virtuais, como foi o caso da marca do estilista Michel Klein, a Mimi Liberté, além da Azzaro e Nicolas Besson.
Um evento esperado foi a coleção de verão 2021, no showroom da Dior, para a imprensa internacional. A diretora criativa, Maria Grazzia, criou uma coleção rica em detalhes e técnicas de bordados, fiação e tingimento, dedicada ao conforto, tão solicitado neste momento. O casaco foi substituído pelo quimono em várias versões: longo, curto, jeans pachtwork em tons leves, usado com pantalonas, saias amplas franzidas, vestidos de musselines, bordados ou lisos soltos no corpo. Nos acessórios, a novidade são as microbolsas, lindas! Tudo muito chic e cool! Bravo!