Todos os dias, desde que os casos aumentaram no Rio, eu ficava sabendo que algum conhecido estava infectado com a Covid-19, até que, no dia 13, o vírus entrou na minha vida. Hoje, segunda-feira (27/04), perdi a terceira pessoa da minha família para o coronavírus: primeiro, meu tio Emanuel, dentista, de 56 anos, no sábado (25/04); depois, minha tia Márcia, pedagoga, de 45 anos, nesse domingo (26/04), ambos, pessoas saudáveis, sem doenças associadas. E hoje (27/04), morreu minha tia-avó Rita, de 80 anos, que tinha pneumonia. Detalhe: eles não moravam juntos ou sequer se visitavam, o que significa que se contaminaram de fontes diferentes. Eu e minha mãe estamos contaminados, assintomáticos, em isolamento na mesma casa. Ela, que tem 42 anos, não apresentou os sintomas.
Pensei que eu fosse morrer, mas acredito muito em Deus, e isso está me ajudando a enfrentar a doença, o luto e a dor de não poder nem me despedir de quem eu amo. Todos os dias, leio o livro sagrado (o Alcorão), e as coisas ficam mais leves. Recebo muito apoio dos meus amigos de todos os lugares do mundo, muitos deles com contaminações na família. Eles me ligam e fazem videochamada, só para eu não me sentir mais triste ainda.
Este ano, eu tinha planejado viajar e conhecer muitos lugares sagrados, mas tive que adiar tudo. A viagem está sendo feita dentro de mim; estou me conhecendo e tornando este momento doloroso como uma lição. Precisamos aprender a ter mais respeito pela natureza e mais empatia pelos outros. O que mais dói nesta pandemia é que não podemos fazer nada, porque é muito fácil a contaminação, e o isolamento é essencial.
A única forma que encontrei de ajudar foi fazendo doações pelo aplicativo Rappi, e, de casa, consigo ajudar, com kit de higiene ou cesta básica, alguma família. Já é pouco mais de um mês isolado, sem abraçar ninguém. Só consegui manter, da minha rotina, os estudos — faço duas graduações, História e Museologia, e isso me ajuda a passar o tempo e não pensar muito sobre esse drama universal. Todas as noites, antes de dormir, peço por todos e, sempre que posso, estou a repetir: não subestime esse vírus.
Patrick Benfica tem 24 anos, é estudante de Museologia e História na Veiga de Almeida e na Estácio.