Em 1993, no álbum que levava seu nome, Rita Lee cantou, em “Todas as Mulheres do Mundo”, que “toda mulher é meio Leila Diniz!” Ou seja: nem a vasta cabeleira de Sônia Braga, nos anos 1970, ou as sobrancelhas grossas de Malu Mader, nos anos 1980, conseguiram barrar o impacto que a ousada, irreverente e libertária Leila causava nas mulheres desde a década de 1960.
Curiosamente, cinco anos depois, o mundo foi invadido por quatro mulheres na faixa dos 30 anos, belas, bem-sucedidas e sem nenhuma relação com Leila Diniz, mas que também se tornaram influências poderosas para toda uma geração no que se refere a comportamento, relacionamento afetivo e, principalmente, moda. Entre um drinque Cosmopolitan e outro, Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), Samantha Jones (Kim Cattrall), Charlotte York (Kristin Davis) e Miranda Hobbes (Cynthia Nixon) trocavam confidências sobre feminilidade, frustrações na vida profissional, alegrias pessoais e a eterna busca pelo parceiro ideal.
Até 2004, a adaptação do livro de Candace Bushnell tornou-se quase uma seita para mulheres ao redor do Planeta, que se inspiravam, aprendiam, sofriam e evoluíam com elas. A série rendeu ainda dois filmes para o cinema, em 2008 e 2010, e o encerramento da trilogia era esperado. E só não aconteceu porque Kim Catrall decidiu jogar os segredos de liquidificador do quarteto na mídia, deixando claro seu desinteresse em reviver Samantha e o profundo desprezo que sentia por sua colega de elenco, Sarah Jessica Parker. Durante anos, a rixa entre as duas tornou-se assunto para inúmeros fanfics e sites de fofocas.
Esses baphos voltaram ao centro das atenções no domingo (10/01), quando a HBO confirmou o retorno de “Sex and the City” — com o subtítulo “And Just Like That…” — em dez novos episódios, que começarão a ser rodados em março. E sem Kim Cattrall…
Entre as avalanches de alfinetadas nas redes sociais, celebrações de Sarah, Kristin e Cynthia e muita especulação, a questão que fica é: como estão essas mulheres, hoje, na faixa dos 50? Como se posicionarão neste mundo tão polarizado, pandêmico, mais pautado em causas sociais, igualdade de gênero e luta contra o racismo? Como sustentar atualmente todo aquele glamour que nos encantava entre 1998 e 2004?
“Sex and the City” sempre foi muito criticada pela falta de diversidade no elenco (quase não teve atores negros), excesso de futilidade e falta de apoio às causas LGBTQ, uma comunidade que sempre idolatrou a série. Em tempos de “I May Distroy You” e “Euphoria” na TV, Carrie, Charlotte e Miranda não podem mais ser as mesmas; ou podem, só que em maior sintonia com o “novo normal”?
São questões que ainda darão muito pano pra manga na web, mas que Michael Patrick King (produtor executivo do seriado e diretor dos dois filmes) e o trio de protagonistas (e também produtoras executivas) certamente saberão driblar com o talento já comprovado. Ah! E Samantha! Você fará tanta falta… Justamente a que mais lembrava a nossa Leila Diniz.
Jorge Luiz Brasil é jornalista especializado em novelas, séries e cinema, com mais de 30 anos de carreira. Já foi editor do Caderno de Cultura do Jornal O Fluminense, teve passagem pelas redações de O Dia e Extra, além de ter atuado na Editora Bloch (Revista Amiga) e Editora Abril (Revista Contigo) e também na TV Globo. Atualmente é editor da revista Minha Novela e do site Mais Novela.
Por Acyr Méra Júnior