Não há nenhum jeito bom de terminar um relacionamento.
Mas há jeitos péssimos.
E esses são os melhores.
Porque o jeito péssimo é uma forma não só de terminar, mas de não deixar possibilidade de ser preciso, no futuro, terminar de novo.
É o tiro de misericórdia com bala de prata embebida em curare, salmonela e Tang tamarindo.
A estaca cravada no coração, não sem antes ser esfregada com alho, enrolada num crucifixo e batizada com uma mistura de Corote Azul e terra de cemitério.
“Preciso de um tempo” é uma estratégia fadada ao fracasso. Significa que, ao fim de “um tempo” (seja lá que tempo for – meia hora, 75 anos) a pessoa estará apta a retomar aquilo que não tem a menor chance de dar certo. “Preciso de um tempo” só empurra o problema para mais adiante – talvez o tempo necessário para se ter coragem de terminar de um jeito péssimo. Enquanto isso, a outra pessoa terá esperança de que o desajuste vitalício entre os dois seja algo passageiro.
Se é para terminar, que seja da pior maneira. Tipo “Você merece alguém melhor do que eu”.
Isso não significa que eu não seja bom o suficiente para você, mas que você é incapaz até de ser tão ruim quanto eu gostaria que fosse. Ou seja, pior do que eu.
Por que terminar por incompatibilidade de gênios (o outro nunca é um gênio, apenas genioso/a), ou diferenças inconciliáveis (que equivalem a igualdades igualmente inconciliáveis), se é sempre possível terminar com “Você é para casar, mas não estou preparado para um relacionamento sério”.
“Você é pra casar” significa que acabou o desejo. Que eu já te vejo dormindo com a cara emplastada de creme de abacate (ou coberto de farelo de Cheetos, na frente da televisão), fechando a geladeira com o pé (ou reclamando da pasta de dente aberta e da porta do banheiro fechada). Que me imagino comprando mais fraldas que camisinhas — e você já se vê sendo chamada de “mãe”, “patroa” e apresentada como “minha esposa”.
“Não estou preparado para um relacionamento sério” quer dizer que ainda tem muito gás neste isqueiro para ser trocado por um fósforo que só risca na caixa.
Por que arriscar o clássico “Precisamos conversar” — que renderá uma conversa interminável e com as mesmas chances de sucesso das negociações de paz no Oriente Médio e das reclamações de barulho, nas reuniões de condomínio – se sempre se pode terminar por e-mail, zap ou (melhor ainda, quer dizer, pior ainda) mudando o status no FB? Tudo seguido, claro, de um block, para não deixar dúvida?
Se nada disso der certo (sim, há pessoas resilientes — e tome cuidado com as que usam a palavra “resiliente”!), o jeito é apelar para o fatídico “O problema não é você: sou eu”.
Isso não quer dizer, absolutamente que seja eu o problema, mas que a decisão está completamente fora da sua alçada.
Se o problema fosse você, você até podia dar um jeito de mudar (de comportamento, de corte de cabelo, de signo). Mas não há nada que você possa fazer quanto a mim. “O problema sou eu” quer dizer que você não é a solução.
Para quem quiser fazer a agonia render um pouco mais – e manter o relacionamento vivo por aparelhos – sempre se pode lançar mão de um “Você é muito especial, mas…”, ou “Neste momento, estou precisando focar em outras coisas e…” ou mesmo “A gente se dá tão bem… Vamos ser amigos?”.
Tudo isso deixa aberta uma chance em um bilhão. Afinal, se você é especial, por que te deixar escapar? Ajustar o foco não leva tanto tempo assim – você pode esperar. E, last but not least, amizade é quase amor (e mais vale uma amizade com privilégios que tentar, a esta altura do campeonato, se reposicionar no mercado de trabalho do amor e do sexo).
Não.
Poste uma foto de vocês dois, com a legenda “Eu e meu/minha ex”.
Ou de você e um/uma ex: “Redescobrindo o lado bom da vida”.
Por garantia, faça essas duas coisas e ainda comente na foto do/a melhor amigo/a dele/a: “Oi, sumido/a!”.
Se tudo tem que terminar assim, que pelo menos seja até o fim – pra você nunca mais ter que terminar (com a mesma pessoa, pelo menos).