Em 2013, eu e minha equipe publicamos o primeiro estudo brasileiro sobre os efeitos positivos da toxina botulínica em pacientes deprimidos, de nossa autoria. Esse estudo contou com avaliações psiquiátricas para mensurar os sintomas da depressão, antes e depois do tratamento. Também avaliou a autoestima dos pacientes deprimidos e de pacientes-controle não deprimidos.
Hoje, encontram-se mais de 300 publicações a respeito desse tema na literatura médica mundial. É possível que a contração peculiar dos músculos da glabela dos pacientes deprimidos tenha um papel na depressão. A toxina botulínica não é tratamento primário de depressão, e o dermatologista não trata primariamente pacientes deprimidos. No entanto, as aplicações da substância para rejuvenescimento têm se mostrado um adjuvante importante no tratamento da depressão, apesar de seu mecanismo de ação não estar ainda completamente elucidado.
A pandemia que vivemos tem sido apontada, por muitos pacientes, como um fator agravante dos sintomas de depressão e de ansiedade. Os deprimidos que já utilizam a toxina botulínica como uma medida a mais, tem retornado para as suas aplicações mesmo durante a pandemia. Hoje conhecemos mais um novo e poderoso inimigo invisível que pode afetar o nosso organismo, e não temos como prever como ele reagirá. Um inimigo invisível, imprevisível e ainda bastante desconhecido. Muitos pacientes já estão retornando para tratamento, movidos pela necessidade de retomar os cuidados com eles mesmos, mas alguns outros, para melhorar os sintomas da depressão.
Essa pandemia também nos ensinou sobre a importância dos cuidados com a saúde, uma vez que os riscos parecem ser significativamente menores em organismos saudáveis. E nos fez redimensionar a importância de certas coisas, além do valor que damos a outras. Que sorte a de quem conseguiu sobreviver sem grandes problemas a isso tudo! Neste momento, precisamos ficar solitários, evitar aglomerações e, muitas vezes, sem o carinho e o calor do convívio dos familiares, mas, igualmente, precisamos ser solidários — porque a solidariedade nos fortalece e melhora nossa imunidade. É um momento de propósitos e de ação: de fazer alguma coisa por aquelas pessoas que precisam de ajuda. É o momento de exercitar a nossa mente e encontrar uma forma de ajudar. Cada um precisa fazer um pouco a cada dia. Só assim, sairemos mais fortes e imunizados por uma dose de solidariedade e compaixão, enquanto a vacina não chega.
Doris Hexsel é médica dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, atual presidente da International Society for Dermatologic Surgery (ISDS), investigadora principal do Centro Brasileiro de Estudos em Dermatologia (CBED) e diretora-técnica das Clínicas Hexsel de Dermatologia no Rio e em Porto Alegre.