O ex-presidente israelense Shimon Peres dizia: “Os otimistas e os pessimistas morrem exatamente a mesma morte, mas vivem vidas muito diferentes”. A opção pela vida que vivemos deve ser uma opção de natureza otimista, pois a vida assim pode ser muito melhor.
Este ano deixa uma marca no contexto da vida de todos nós, com duras consequências, mas isso já tem sido debatido em vários fóruns; prefiro não me estender nesse ponto. Vamos falar do otimismo. Vamos falar da vida que queremos que seja vivida.
Qual o segredo da eternidade judaica? Se a opinião médica está começando a sustentar que uma das variáveis mais importantes para se alcançar a longevidade é o otimismo, uma das mensagens mais originais e importantes que o Judaísmo deu ao mundo é a noção otimista de redenção mundial. É o ato de adquirir de novo, resgatar, tirar do poder alheio, sair do cativeiro e acreditar que podemos fazer mais e melhor.
O Judaísmo também ensina que o mundo e a história são lineares, e não cíclicos. Ambos progridem, olhando e andando para frente, aprendendo com o passado, mas não voltando ao passado. E, nessa jornada, rumo à reparação e à redenção, à noção profética da eventual perfeição humana em um momento em que “nação não levantará espada contra nação e a humanidade não aprenderá na guerra, jamais”.
Eu sustentaria que o que nos manteve unidos, apesar do exílio, das perseguições, dos pogroms (termo referente aos ataques físicos da população em geral contra os judeus), do Holocausto, é esta crença fundamental de que o que fazemos importa, e que nosso papel é o de aperfeiçoar o mundo no Reinado de D’us.
Tikkun olam (“conserto do mundo”): um conceito no Judaísmo frequentemente interpretado como a aspiração a agir de maneira construtiva e benéfica.
Seu uso remonta ao período da Mishnaic (ca. 10-220 EC). Desde os tempos medievais, a literatura cabalística ampliou o uso do termo. Na era moderna, entre os movimentos pós-Haskalah, tikun olam é a ideia de que os judeus são responsáveis não apenas por seu próprio bem-estar moral, espiritual e material, mas também pelo bem-estar da sociedade em geral. Para muitos rabinos pluralistas contemporâneos, o termo se refere a “justiça social judaica” ou “o estabelecimento de qualidades divinas em todo o mundo”. Nossa contribuição de integrar, convergir e conciliar de forma universal e geral.
É nessa condição que espero, como judeu e como alguém que deseja colaborar com meu melhor, que possamos superar esta fase de isolamento e dela sair entendendo de fato a importância das relações humanas e do respeito. Que tenhamos aprendido a dar o peso exato e a relevância ao conhecimento, e que assumamos humildemente o desconhecimento como algo que nos inspire a entender mais e aprender mais.
Que superemos a arrogância e a prepotência, incorporando a humildade como uma roupa de uso permanente. Até porque o inesperado pode surgir, dando a sensação de que poderíamos ser derrotados, mas jamais o suficiente para vencer nosso otimismo — o otimismo que resgata e que faz renascer mantendo a esperança de um momento melhor.
E que a dificuldade momentânea, seja ela da magnitude que for, não se sobreponha ao desejo verdadeiro de construir, ao desejo de incluir, ao desejo de socializar. E que esse melhor transcenda o mundo judaico, extrapole as fronteiras de uma única religião, supere diferenças e respeite as individualidades como pano de fundo de uma sociedade plural.
Gmar Chatima Tova. Sejamos todos escritos no livro da vida!
Claudio Lottenberg é presidente do conselho do Hospital Albert Einstein, presidente do Instituto Coalizão Saúde e mestre em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp). E, ainda, um dos principais líderes da comunidade judaica do Brasil. Nesta sexta (18/09) é comemorado o Ano Novo Judaico.