Se eu pudesse me definir neste momento, diante de tudo isso que estamos atravessando, todas essas dificuldades, essas incertezas, eu diria que sempre fui e, provavelmente, continuo sendo uma pessoa muito otimista. Na minha vida toda, sempre procurei olhar para algum obstáculo que tenha surgido, buscando como ultrapassá-lo da melhor forma possível.
Acordar, sair de casa, passar o dia trabalhando, voltar pra casa, não e fácil. Esse já é um desafio que atravessamos diariamente, impossibilitados por este momento que estamos vivendo, esta pandemia. Não poder sair de casa, não poder trabalhar e voltar pra casa depois um dia de trabalho, eu também passo por isso. Sei que não é fácil para muitas pessoas, sei que muitos não têm somente esse obstáculo. Alguns ficaram doentes, alguns não voltaram pra casa, outros estão aqui, tentando sobreviver.
Hoje, a palavra que reina no meu dicionário é otimismo — porque eu acredito muito na vacina. Eu acredito que as pessoas devem vacinar-se, devem apostar nisso. É a primeira grande esperança que temos depois de passar por esse momento caótico.
Lançamos esse chamado público às produções contempladas pela Lei Aldir Blanc, sabendo o quanto o ano de 2020 foi difícil para a cultura. Fomos praticamente aniquilados — não só nós, não só a área cultural, mas também variadas áreas, tanto no nosso País quanto no mundo inteiro. Saber que as produções conseguiram um auxílio tão esperado através desse edital cujo processo foi tão conturbado, e que agora, com prazo curtíssimo de realização, correm o risco de ter que devolver o dinheiro caso não consigam estrear, mexeu muito com todos nós.
Percebemos o problema quando começamos a receber vários pedidos pontuais de pauta, apresentando em comum essa mesma urgência nos prazos. Então, nós, do Teatro PetraGold, levamos a ideia para o Eduardo Braule-Wanderley (CEO do Grupo PetraGold), que adorou e imediatamente abraçou o projeto.
Começamos a trabalhar prontamente, fazendo mudanças nessa pauta. Conversamos com alguns artistas que já tinham sinalizado o desejo de estar no nosso teatro, e passamos algumas dessas pautas para mais adiante. Assim, pudemos abrir o chamado às produções contempladas pela Lei Aldir Blanc, que provavelmente não encontrariam com a rapidez necessária espaços onde pudessem apresentar-se presencial e/ou virtualmente. Não podemos esquecer que essas produções, além de movimentar a cultura, fomentam a economia, com empregos para técnicos, camareiras, iluminadores, toda uma equipe que nem sempre vemos, mas é indispensável no ofício teatral.
Acredito que devemos continuar buscando o otimismo, cuidando para não esmorecer diante dos acontecimentos. A partir de determinado momento, eu comecei a reduzir meu consumo de informação, selecionar mais as notícias que chegam, muitas vezes as mesmas, repetidas por três ou quatro diferentes veículos de comunicação, imprecisas ou até deturpadas. O excesso não estava me fazendo bem, e imagino que também não deve ter feito bem a muita gente.
Sem me alienar, procurei fazer outras coisas, buscar novas possibilidades, ser um pouco mais criativo num momento em que nada parecia andar. Como professor (leciono Cinema na Universidade Estácio de Sá), comecei a dar aulas online. Como ator, estou ensaiando um espetáculo com estreia prevista para agosto de 2021, “Homens Imprudentemente Poéticos” de Válter Hugo Mãe, direção e adaptação de Jorge Farjalla.
No meu consultório, comecei a fazer atendimentos a distância, consultas online, e, no Teatro PetraGold, criamos o projeto Teatro Já, que movimentou intensamente o teatro de julho a dezembro, com programação majoritariamente virtual, apresentada do palco do teatro ao vivo. Fizemos também a campanha Ingresso Solidário, cuja arrecadação, através de ingressos, beneficiou muitas famílias de técnicos e artistas atingidos pela pandemia.
André Junqueira é ator, diretor executivo do teatro PetraGold (Leblon), professor de Cinema da Estácio e, além dos palcos e TV, também trabalha como ortodontista e atende em seu consultório, no Leblon.