Depois do carvão ativado, a Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) anunciou, nessa quarta (29/01), a aplicação de argila ionicamente modificada numa lagoa próxima à captação da Estação de Tratamento de Água (ETA) Guandu. Se você ficou animado com a melhora na qualidade da água, lamentamos o balde de água fria — não a da Cedae, claro. Segundo o biólogo Mario Moscatelli, colaborador da coluna, todas são ações de consequência e não na causa e, enquanto as autoridades responsáveis não olharem os esgotos jorrados nos rios cariocas, a população nunca vai estar completamente a salvo. “Acho que está batendo um desespero na turma, pois ultrapassamos algum limite imposto pelo verão, pelo volume de esgoto e, principalmente, pela capacidade tecnológica da estação de tratamento. Hoje foi a geosmina; amanhã, sabe-se lá…”, alerta.
Mario explica todo o processo: “A adição inicial de carvão ativado tem por objetivo remover a molécula que gera o odor e o gosto desagradável na água. Age na consequência da degradação da bacia hidrográfica. A adição da argila captura o fósforo, elemento rico no esgoto que jorra há mais de 20 anos, sem ser incomodado no ponto de captação da estação do Guandu e, consequentemente, visa controlar a explosão demográfica de micro-organismos que ‘deitam e rolam’ com a presença do elemento citado, mais uma vez agindo na consequência da degradação. Até o momento e, provavelmente nem tão cedo, pelo visto, a causa — isto é, o esgoto que continua sendo jogado nos rios Poços, Ipiranga e Queimados, fontes de fósforo, nitrogênio, hormônios, toxinas e sabe-se mais lá o que tem naqueles valões — continuará agindo como responsável pela degradação e suas consequências. Portanto, os processos naturais sempre estão nos ‘pregando peças’, tanto para o bem e infelizmente para o mal, com a temperatura e a intensidade de luz típicas de nossos verões, somadas com o fornecimento de esgoto dia e noite pelos valões. Eu, particularmente, não vejo solução, principalmente no período do verão. Os problemas vão continuar enquanto não cessar o aporte de esgoto, fonte do fósforo que está chegando neste exato momento, assim como o fósforo disponível já despejado”.
Não é de hoje que Moscatelli chama atenção para esse tema. Como você pode ver aqui!