(Atualização com resposta da Cedae no fim do artigo)
Senhor presidente da Cedae, Renato Lima do Espírito Santo,
Nessa segunda (22/03), a estatal publicou um edital para a realização de obras de proteção na Estação de Tratamento de Água (ETA) Guandu. O objetivo é tentar solucionar, de uma vez por todas, o problema da geosmina, que afetou a população no início do ano passado e voltou a aparecer em 2021. O procedimento seria impedir que as águas dos rios Ipiranga, Queimados e Poços se misturem às do rio Guandu antes da captação da água que chega para tratamento na ETA Guandu.
Agora, o anúncio do projeto é de R$ 132 milhões. É isso mesmo? Se não me engano, em fevereiro de 2020, o projeto tinha o valor de R$ 92 milhões. O tempo passou, ninguém executou coisa alguma, e o abacaxi foi parar no INEA (Instituto Nacional do Ambiente), que gerou outro projeto mais barato, mas que também não saiu do papel. Até aí, tudo normal.
Agora, um ano depois da primeira crise da geosmina, como o projeto ficou R$ 42 milhões mais caro? O senhor poderia explicitar essa aparente diferença de custos e informar o cronograma físico-financeiro da obra e, principalmente, quando ela será entregue?
A postura da estatal condiz com seu histórico de estar acima do bem e do mal, em que as tragédias socioambientais, anunciadas na bacia do rio Guandu, no sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá e na Baía de Guanabara, continuam sem data para terminar, tampouco sem satisfação alguma de quem monopoliza os péssimos serviços prestados pela estatal. Assim é o Rio: manda quem pode, obedece quem perdeu o juízo.
Em 1999, dei o primeiro alerta. Ninguém me deu atenção; aliás, coisa normal por aqui. Passou o tempo e, em 2008, alertei na mídia, mais uma vez, sobre o assunto da contaminação do rio Guandu, cobrando as obras. O então presidente da estatal, Wagner Victer, informou que o projeto de 2007 seria iniciado em 2008. Como de praxe, nada aconteceu, até porque nenhuma autoridade é cobrada de nada nesse lugar, com real perspectiva de punição no caso de algum tipo de omissão.
Estive no ponto de captação do Guandu inúmeras outras vezes, com e sem a imprensa, e nada aconteceu. Finalmente, em 2020, a natureza resolveu dar o troco em forma de geosmina ou coisa que o valha. Alertei ao governador da época, Wilson Witzel, que era a oportunidade de ele escrever seu nome na história, bastando para isso tomar uma série de medidas. A única coisa que aconteceu foi o então presidente da estatal, Hélio Cabral Moreira, em fevereiro de 2020, informar publicamente que o projeto sairia do papel em três meses. Pelo menos, foi isso que eu ouvi em 2020.
Como dito acima, o projeto era de R$ 92 milhões. O tempo passou e, como era de esperar, o projeto alardeado não saiu do papel, e a responsabilidade, bem como o custo de execução do mesmo, caiu no colo da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. O novo projeto seria mais barato, por volta de R$ 60 milhões. Destaco não me lembrar exatamente dos valores envolvidos, mas ficava mais barato. Mais uma vez, o projeto, fosse o que fosse, não saiu do papel.
Voltei mais uma vez ao local do crime, alertando publicamente que corríamos o claro risco de ter, novamente, os mesmos problemas de janeiro de 2020, visto que tudo continuava na mesma desde 1999! Chegou 2021 e, como previsto, geosmina e cia. voltaram, em plena pandemia, a perturbar a vida para lá de perturbada dos consumidores.
Agora, R$ 132 milhões? Questionamentos públicos feitos para o senhor presidente da estatal, até hoje, não tiveram respostas — até porque, para que dar satisfação pública, quando depois de 22 anos de alertas e cobranças não houve qualquer mudança na situação problema e tampouco consequências reais para com os gestores de mais essa tragédia socioambiental exaustivamente denunciada?
Os questionamentos em aberto continuam sendo, para frisar mesmo:
1- A estação de tratamento de água é a mesma coisa de estação de tratamento de esgoto (como já perguntamos aqui)?
2- Qual o motivo de o projeto de proteção do ponto de captação da estação de tratamento de água do Guandu ter aumentado de preço?
3- Qual o cronograma físico-financeiro da obra?
4- Qual a data de entrega da obra?
Perguntas singelas às quais a estatal não respondeu, mas esperança e cara de pau são as últimas que morrem!
A Cedae respondeu à coluna neste sábado (27/03), às 16h30:
“A obra de proteção da tomada de água teve alteração no investimento total devido aos fatores abaixo relacionados.
-— Atualização da referência de preços que anteriormente era de dezembro de 2019;
— Incorporação do ATO (Acompanhamento Técnico de Obras) e nova biometria para verificar a situação atual em comparação à época da elaboração do projeto;
— Incorporação de um novo canal de ligação entre o Rio Guandu e a lagoa;
— Inclusão da aquisição dos tubos que inicialmente seriam comprados por outro contrato;
— Inclusão da automação das estruturas mecanizadas.
O prazo estabelecido para a conclusão das obras é de cerca de 30 meses, sendo 24 meses de obra e 6 meses de operação assistida. O edital, no entanto, admite inovações no projeto que permitam a redução deste prazo.