André Piva nasceu no Rio Grande do Sul, morou em Brasília, mas foi no Rio que sua vida aconteceu. Era um verdadeiro cidadão carioca, também pelo senso de humor. Ouvia sempre de uma amiga: “Seu humor foi baixado do céu”. Ele ria e repetia qualquer frase, como que comprovando o que acabara de ser dito. Sempre muito feliz, tanto pela vida amorosa quanto pela profissional. Seu sucesso como arquiteto era aplaudido de fora a fora, com um trabalho autoral e reconhecido. Comemorou, em 2017, 20 anos do seu escritório, com o livro “André Piva Arquitetura”. À época, disse à coluna: “Cada projeto é único, e tenho orgulho de todos eles. Foi difícil escolher. A minha arquitetura não ficou defasada”.
A lista de clientes sempre foi grande: artistas, políticos, empresários, além dos comerciais, como o Marina Palace e o Cinema Leblon, além do restaurante Malta Beef Club, do qual era sócio. Sem falar em sua própria casa, criada do zero, uma atração em si, com vista para a Lagoa, Morro Dois Irmãos e Cristo Redentor, onde vivia com o marido, o estilista Carlos Tufvesson — com quem se casou em 1995, depois de 16 anos na Justiça pelo direito de oficializar a relação, o que aconteceu com grande festa no MAM, em 2011, um dos lugares adorados por ele. “Meu prédio preferido; não canso de olhar, frequentar, admirar”. Foi o primeiro casamento gay com uma festa das mais tradicionais, repercutindo no Brasil inteiro.
No último dia 16 de julho, Piva falou à coluna sobre sua nova paixão, o trabalho voluntário, descoberto nesta pandemia: “É tão lindo e está me dando muito prazer, compensando tudo isso que estamos vivendo”. Depois que leu num post a frase “a classe média está morrendo de tédio e os pobres, de fome” e, ao lado de outros arquitetos, entrou com tudo no movimento “Juntos somos mais arq”, desde março, arrecadando e, claro meios de sobrevivência para inúmeras pessoas. A história acabou crescendo, conseguindo juntar 3.800 arquitetos e designers; só, no Rio, arrecadou R$ 530 mil.
André Piva, que, em 2014, ganhou o título de Cidadão Honorário do Município do Rio, assinou inúmeros projetos em Portugal, Israel, França, Inglaterra, EUA e Áustria. Era também nome assíduo no CasaCor. Deixa muitos de luto, além das razões citadas, pela lealdade, pelo grande amigo que o Rio perde, tanto para as pessoas quanto para a cidade, desse profissional brilhante.
Piva morreu nessa quarta (05/08), aos 52 anos, no Copa Star, de leucemia linfocítica aguda. O sepultamento vai ser nesta sexta (07/08), no Cemitério da Penitência, em cerimônia apenas com a família para evitar aglomerações. A nós, resta um novo começo sem ele.
Aqui, uma singela homenagem da coluna a André em fotos de 2010 a 2019: