É possível que até alguns bandidos cariocas talvez demonstrem certo embaraço ao ler “Suzane: Assassina e Manipuladora” (Editora Matrix), do premiado jornalista Ullisses Campbell, a ser lançado nesta quinta (23/01), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, sobre a vida de Suzane von Richthofen. O livro chegou a ser censurado, mas foi revogado pelo ministro Alexandre de Moraes em dezembro passado. Quem não se lembra da famosa Suzane? Ela e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos mataram a pauladas o casal Manfred e Marísia von Richthofen, em casa, na Zona Sul de São Paulo, com plano assinado por ela, a própria filha.
Perguntado dos seus sentimentos durante o tempo de dedicação, três anos pesquisando e um escrevendo, o autor responde: “Eu descobri no início da pesquisa que um livro como esse só ficaria bom se eu o fizesse de forma obcecada. Me afastei de tudo e de todos para mergulhar no universo sombrio da Suzane por três anos. Na época que estava escrevendo, tinha pesadelos à noite. Por isso a obra ganhou contornos de terror. Principalmente quando o fantasma da mãe passa a assombrar a Suzane na cadeia”.
Todo brasileiro certamente sabe quase de cor essa história, mas existem bastidores muito curiosos; aqui, um deles: “Quando os irmãos Cravinhos estavam em liberdade, em 2005, graças ao habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), Cristian conheceu, por meio de um amigo surfista, a bancária Sherminne, de 26 anos à época. Mesmo depois de ele voltar para a prisão, em 2006, o relacionamento continuou firme. Como prova de amor, o assassino de Marísia tatuou em seu peitoral o nome da amada. Sherminne retribuía tamanha devoção visitando o seu amor todos os fins de semana. Por volta das 4h da manhã de todo santo domingo, pegava o carro e seguia religiosamente pela Via Dutra (BR-116), percorrendo os 150 quilômetros que separam o portão da sua casa, em São Paulo, da entrada da penitenciária de Tremembé. Sherminne trabalhava na gerência de um banco privado. Bem-sucedida financeiramente, era uma mulher atraente, branca, magra, cabelos loiros cacheados e pele tratada. A executiva sempre estava bem vestida, apesar de usar roupas curtas e decotes profundos. No trabalho e no convívio social, a bancária era educada, doce, charmosa e cortês. Quando irritada, porém, tornava-se grossa, amarga, vulgar e barraqueira. Por mais de uma década, ela conseguiu operar o milagre de manter o namoro com o assassino confesso em segredo da família e dos colegas do trabalho. Às amigas íntimas, Sherminne falava ter sido Cristian o único amor de sua vida. Nas visitas dominicais a Tremembé, fazia questão de levar comidas sofisticadas para almoçar com o namorado, no pátio da prisão. Em um desses banquetes, carregou no jumbo (sacola de mantimentos para os presos) uma marmita contendo lagostas douradas na manteiga, feitas ao forno com azeite de manjericão e castanha-do-pará, compradas no restaurante Dom Curro, um dos mais sofisticados da Rua Oscar Freire. As extravagâncias de Sherminne pareciam sem limites. Numa visita, levou lençóis de fios egípcios e travesseiro de pena de ganso para dar conforto ao sono de Cristian. Como o casal tinha um contrato de união estável, era permitido o uso da ala destinada a encontros sexuais. Depois das refeições, Sherminne e Cristian passavam o resto da tarde trancados em uma sala, fazendo sexo em Tremembé. Esses encontros íntimos eram barulhentos a ponto de chamar a atenção do agente de segurança penitenciária Firmino Júnior. Os gemidos de Sherminne eram ouvidos no pátio pelos visitantes. O funcionário teve de interromper. Bateu na porta e advertiu Cristian, lembrando haver crianças e senhoras na área externa da cadeia.”