Ninguém consegue imaginar o baile de carnaval do Copacabana Palace, o mais tradicional do Brasil, sem pensar imediatamente em Zeka Marquez: é ele quem assina a decoração comentada, chique e criativa da festa há quase 20 anos. Marquez é um artista múltiplo: poeta e desenhista erótico, nasceu em Porto Alegre, fundou o Teatro da Ilusão aos 13 anos de idade, estudou gravura, desenho e pintura. Ainda garoto, foi para São Paulo desenhar estamparias exclusivas para os famosos desfiles da Rodhia e, desde essa época, nunca mais parou.
Morou no Rio, morou em Nova York, morou em Paris e atualmente vive em Biarritz, sul da França, onde cria uma égua, a Zeca Kiss, no haras da namorada. Zeca já decorou festas para o barão Alexis de Redé, já fez arranjos de cabeça para Grace Kelly, já decorou bailes como o American Cancer Society e para o Unicef, com Audrey Hepburn. Sua lista de amigos sempre contou com nomes que iam de Placido Domingo a Margot Fontayn, de Oscar de la Renta a Rudolf Giuliani (ex-prefeito de Nova York). Costuma vir ao País apenas uma vez ao ano, exclusivamente para este compromisso: o Baile de Gala do Copa. Ali, a criatividade do artista é ilimitada, talvez no único cenário carioca a comportar tudo que ele pensa e cria: elogios até o ano seguinte, quando ele volta e tudo recomeça.
UMA LOUCURA: “Fazer do lixo um luxo. Em Paris, nos anos 70, criei uma decoração com milhares de sacos de lixo negro em uma noite, no New Jimmy’s, em homenagem à Catherine Deneuve.”
UMA ROUBADA: “Entreguei o décor desenhado e pronto em New York a um empresário brasileiro superconhecido. Levei um calote. Resultado: não executando meu projeto, que era genial, o tiro saiu pela culatra… Ele faliu.”
UMA IDEIA FIXA: “Lutar pelo belo. Existe uma tendência cínica do feio e do grotesco. Lady Gaga, por exemplo, é o grotesco. Em geral, todo mundo faz tudo nas coxas.”
UM PORRE: “Um porre que tomei em Monte Carlo, nos anos 70: depois de um grande baile, despertei em alto-mar. Onde estava? No barco do Onassis.”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Me deparar com a mediocridade das artes plásticas do mundo moderno. Tenho uma constante insatisfação, sempre acho que posso fazer melhor, mesmo sabendo que o absoluto é quase intocável pelo homem.”
UM APAGÃO: “Esquecer que nasci no Planeta Terra. Estou aqui sem querer, tenho a impressão que vim errado. Quero um planeta onde exista o amor. O amor aqui é vagabundo: entra na casa, chega quando não se espera, tem fome, pega tudo e nos deixa à mercê dele.”
UMA SÍNDROME: “Tenho a síndrome do horror ao feio, que reina nesta nossa época. O que dizer, por exemplo, do Romero Britto? Essas coisas não duram. Vivemos um momento de decadência, o que não quer dizer que não exista também o maravilhoso.”
UM MEDO: “Tenho medo dos humanos, eles podem ser maus, invejosos, egocêntricos. Gostaria de comprar uma espada pra cortar o ego.”
UM DEFEITO: “Meu maior defeito é o perfeccionismo: estou sempre à procura de tocar o divino.”
UM DESPRAZER: “Comer mal e em más companhias. Comer bem é simples, os chefs é que complicam muito, deixando a gente frustrada. Quanto às más companhias, eu evito.”
UM INSUCESSO: “O verdadeito sucesso é se sentir bem consigo mesmo. O insucesso é o oposto.”
UM IMPULSO: “O de ser apreciado, de ser reconhecido. Isso nos motiva e nos ajuda – não é uma questão comercial.”
UMA PARANOIA: “Não tenho paranoia, não tenho pensamentos nem pro futuro, nem pro passado. Meu desejo é pelo dia de hoje, que a minha jornada seja boa. Cada dia tento ter uma realização. Sabia que a coisa mais difícil que existe é viver o presente?.”