Sandra Maria Braga Gottlieb, a atriz e cantora Gottsha, tem fama de ser diva, o que ela atribui ao seu público gay, bastante numeroso. “Tenho um carinho enorme pelos gays, eles acham que eu sou internacional, mas, agora que estou ficando mais velha, ando de Havaianas, de cabelo preso, com pouca maquiagem e, mesmo assim, eles me reconhecem nas ruas, dizem que nunca estou ‘à paisana’ ”, conta.
Muito diferente da imagem que ela mesma cultivou quando atingiu o sucesso como cantora do gênero disco, em 95. “Fui a Lady Gaga da época, usava diferentes tipos de penteados, cor de cabelo, boá, plumas, milhares de visuais diferentes”, lembra. Um pouco dessa aura de diva Gottsha acha até que atrapalha: “Pensam que meu cachê é fora do comum, que não vou aceitar fazer um personagem menor, que não vou topar cantar só uma música e mal sabem que você está precisando tanto daquele trabalho! Gosto de gente, de povo”, reforça.
Atualmente, ela está gravando de segunda a sexta-feira a comédia “Acredita na Peruca”, série estrelada por Luiz Fernando Guimarães que estreia em abril no Multishow, e onde ela faz uma dona de casa, ex-cantora de discoteca em Bangu, que abriu mão da carreira para ser mãe.
Musicais no seu currículo são muitos: ela começou em 1997 atuando em “As Malvadas”, de Charles Möeller e Cláudio Botelho, fez “Cole Porter – Ele nunca disse que me amava”, “Tudo é Jazz”, “Beatles num Céu de Diamantes”, “7– o Musical” e, por último, em 2013, “Como vencer na vida sem fazer força”. Como atriz, fez duas novelas na Globo: “Celebridade” e “Senhora do Destino”. E volta e meia é convidada a dublar no cinema: a voz de um dos bichinhos de “Frozen” é sua, assim como a da madrasta da animação “Enrolados” e a do personagem Roz em “Monstros S/A”.
Casada com o cantor Márcio Gomes há oito anos, moradora do Flamengo, Gottsha também pretende reviver um pouco da era disco este ano, com o retorno do seu show “Discotheque” aos palcos. Ela está gravando uma música de Donna Summer, “I Love You”, para entrar numa trilha de novela. Como um globo de espelhos, Gottsha é feita de muitos pedacinhos. “Eu faço tudo, sou uma multiwoman”, define.
UMA LOUCURA: “Sobreviver de arte nesses tempos de hoje no Brasil. Não me acho dentro dos padrões de beleza, sou uma heroína! Parece que a MPB não existe mais, que não tem mais compositores bacanas, há essa invasão de funk e sertanejo – acho até que tudo tem de ter seu espaço, mas não esse massacre. A arte está escondida!”
UMA ROUBADA: “Substituir colega de trabalho num musical. Não me agrada entrar num lugar que não me pertence, num trabalho que não é o meu. Já fiz algumas substituições, às vezes é o colega que quebrou o pé e você tem que fazer o seu papel e o dele, mas o público não foi lá para ver você naquele personagem e também dá uma insegurança. Eu já coloco nos meus contratos que não faço substituição. Deve ser um dos motivos pelos quais tenho fama de diva! (rs)”
UMA IDEIA FIXA: “Fazer carreira internacional, sempre pensei em ir pra fora. Mas essa ideia teve uma embarreirada: em 1995, lancei um álbum em 49 países, mas briguei com a gravadora em seguida. Algumas das músicas foram bem tocadas aqui e estouraram na Rússia, Espanha e em outros lugares. De alguma maneira já iniciei esse meu projeto, já estive em Portugal com um musical e em Lyon, na França, com “Beatles num céu de diamantes”.
UM PORRE: “Ter que fazer lobby, ir a uma festa só porque uma determinada pessoa vai estar presente. Eu conheço gente que ama fazer isso, mas eu detesto. Conheço muitos diretores e atores, mas gosto de estar nos lugares com meus amigos, num clima bacana”.
UMA FRUSTRAÇÃO: “Só ter gravado um único álbum, o “No One to Answer”. Pretendo gravar um CD este ano com algum resquício da era disco, mas também com alguma coisa em português. A única música que gravei em português foi “Fala”, dos Secos e Molhados, tema de Giulia Gam na novela Tititi. Mas 2015 está aí para eu resolver essa frustração”.
UM APAGÃO: “Esquecer letra de música, vivo esquecendo e viro compositora em cena, invento, improviso. Acho que sou uma compositora frustrada! (rs). Mas esse apagão é só em música, como atriz não esqueço texto”.
UMA SÍNDROME: “De arte, de querer acertar sempre, sou muito perfeccionista”.
UM MEDO: “Essa vocês vão rir: tenho pavor de tobogã, começo a suar frio só de pensar. Quando fui na Disney, nos parques aquáticos, subi e voltei tudo aquilo de novo, não tive coragem de me jogar. Mas não tenho problemas com altura em montanha-russa e nem com avião, amo viajar de avião. Meu problema é ficar solta! Também acho que fiquei traumatizada com uma colega de sala quando criança. Ela tinha mãos normais e apareceu na escola sem o dedo, ficou preso no tobogã. Foi horrível!”
UM DEFEITO: “Sou muito preguiçosa. As pessoas até comentam que não posso ser preguiçosa, porque trabalho muito. Mas depois que me levanto, que começo, tá tudo bem. Tenho preguiça de ir à academia, de ir a aniversários, até de jantar fora! Por mim, seria igual ao Garfield, se pudesse ficar no ar condicionado, assistindo a um vídeo e as pessoas viessem me visitar, seria o ideal”.
UM DESPRAZER: “Ouvir as músicas que estão tocando agora, nem escuto mais rádio, são inexistentes, não dizem nada, é um vazio. Sinto falta de ouvir uma cantora como a Gal, a Bethânia, essas cantoras de axé tem todas o mesmo timbre. Só compro, atualmente, CDs internacionais e ouço muito flashback, mas acho que a falta de criatividade é mundial. As coisas ousadas não conseguem ultrapassar a mídia”.
UM INSUCESSO: “O fato desse meu único álbum não ter sido divulgado direito, não ter tido a projeção que deveria ter”.
UM IMPULSO: “Dizer sim a tudo, não nego nada! Se me pedem uma entrevista eu aceito e só depois vou ver que é às 8h da manhã e, aí, não posso voltar atrás. Também não nego roupa emprestada para minhas irmãs. Depois, em alguns casos, me arrependo”.
UMA PARANOIA: “De não conseguir realizar tudo que pretendo, tenho 45 anos e me pego achando que não vou ter tempo de fazer o show que quero, aquele filme, lançar não sei quantos álbuns… Também fico refletindo se já não estou velha demais, tem uma geração jovem tão bacana, fico achando que só vou fazer papel de tia daqui para a frente… Bom, o de mãe de adolescente já estou fazendo agora, na comédia do Multishow! (rs)”