Os vinhos orgânicos, biodinâmicos, veganos e naturais já são uma realidade por todo o Brasil, sendo que o Rio vem, cada vez mais, recebendo novidades e apontando tendências do setor. Uma das responsáveis pela conexão dessa filosofia enológica com os cariocas é a CépageBio, comandada pelo francês Jean Pascal Chalard, que importa alguns dos mais prestigiados rótulos mundiais para as cartas de bares e restaurantes, como Aprazível (Santa Teresa), Trégua (Laranjeiras), Cavi (Niterói), Belisco (Botafogo) e Brota (Humaitá), casa da chef Roberta Ciasca que, recentemente, abriu seu primeiro salão, num casarão histórico (e lindo!), dentro do Reduto.
“Há pelo menos sete anos, vendemos esses produtos aqui. Todo vinho elaborado a partir dessas filosofias surpreende o consumidor pelo texto, pelo contexto que são elaborados (história da casta, das filosofias, de cada produtor, sua militância pelo saudável e sustentável) e, por fim, os aromas e sabores. É um combo, um conjunto de fatores!”, diz Alexandre Brütt, representante comercial da CépageBio.
Os vinhos de mínima intervenção, para ficar claro, não carregam o peso da artificialidade dos adubos químicos, dos pesticidas, das leveduras de laboratório, do excesso de sulfito. São mais “vivos”, mais saudáveis!
Algumas das novidades andam dando as caras no salão e chamando atenção tanto de profissionais do ramo (sommeliers e enólogos) como do comensal em geral.
Esse é o caso do orgânico Bee Famous Rosé (2021), do Languedoc (castas: Cinsault / Syrah), um vinho de cor rosa com toque floral de mel, aroma de pêssego e acidez equilibrada, para harmonizar com quiche Lorraine. Ou então o espumante vegano e orgânico Vouvray Brut (2020), do Vale do Loire (Chenin), com notas de tostadas, ideal para acompanhar canapés, salmão defumado e fondant de chocolate. Na ala dos brancos, destaque para o Chardonnay Les Athlètes (2020), do Loire Vulcânico, com mineralidade que cai bem com fricassê de frango ou risoto de cogumelos. Entre os tintos (olha o inverno aí!), o Château des Léotins Rouge (2020), de Bordeaux (Merlot / Malbec/ Cabernet Sauvignon) é um dos mais elegantes: cor púrpura e reflexos violeta, com perfume delicado e um final de boca que remete às amoras. Um autêntico corte bordalês, que harmoniza com carnes vermelhas, paleta de cordeiro e molhos intensos à base de anchovas.
Para Alexandre Brütt, a tendência que percebemos há algum tempo começou na vanguarda, ou seja, com os sommeliers mais antenados, que querem e desejam oferecer ao seu cliente uma nova experiência quanto às propostas de vinhos mais “autênticos”. “Quanto menor a intervenção que um vinho recebe, maior será a autenticidade do ‘terroir’ que ele carrega.”
A relação custo x benefício também conta. O que está em jogo, segundo especialistas, são agricultura orgânica (versus a comercial); pequenos produtores (versus os grandes) e familiares (versus cooperados). Estamos então falando de vinhos mais caros, no caso dessa leva citada acima, entre R$ 140 e R$ 250.
“Imagine o que seja um produtor comercial produzir, em 1 hectare, a colheita de 10/12 mil vinhas plantadas? Imagine o que seja o pequeno produtor colher o fruto de 4 a 6 mil vinhas plantadas. A diferença da qualidade entre um fruto e outro é enorme”, compara.
Para ficar ainda mais por dentro:
ORG Vinho produzido a partir de uvas orgânicas.
BIO Vinho produzido a partir de uvas orgânicas, com fermentação com leveduras indígenas ou selvagens, mas que, no processo de produção, aplica-se a doutrina da biodinamia, elaborada por Rudolf Steiner.
VEG Vinho produzido sem sofrimento animal, nem insumos animais nas suas fases de elaboração, desde o plantio até o engarrafamento.
NAT Vinho produzido sem intervenção de qualquer tipo, ou seja, sem aditivos, manipulações e procedimentos tecnológicos, incluindo produtos químicos.
HVE Haute Valeur Environnementale, alto valor ambiental, é uma certificação para produtores que produzem com respeito ao meio ambiente e recursos naturais.
Bruno Calixto é jornalista.