Dizem que eu adoro uma história. É verdade. Os fatos sem elas ficam banais, perdem o sabor. Hoje, foi lembrado a mim um fato simpático: como começou a queima de fogos de Copacabana? Em 1981, arrendei os salões do Copacabana Palace e fiz uma programação caprichada, tendo como primeiro show o Chico Anysio, dirigido pelo Jô Soares, dois queridos amigos que toparam fazer essa experiência inédita, que não deu muito certo em função do número de palavrões! E põe palavrão nisso! Veio depois o Agildo Ribeiro, que ficou em cartaz quase um ano! Cauby Peixoto arrebentou. Teve de tudo um pouco – até o charmoso Sammy Davis Jr.
Veio o fim do ano, e também ficou ao meu encargo o réveillon. No ano anterior, o Hotel Meridien (hoje Hilton), tendo à frente um superdiretor, um grande craque chamado Robert Bergé, bolou fazer uma cascata de fogos no hotel. Linda! Espetacular! Tendo a obrigação de fazer um festão de réveillon, pensei na queima de fogos, que aconteceu apenas na frente do Copa. A diferença de então pra hoje é que surgem das balsas que ficam no mar. Naquela época, eram fincados na areia, portanto, muito menos tecnológica, tosca, mas mais próxima dos prédios. Atualmente, é muito mais espetacular, mas muito longe. Acontecia ao nosso lado e era mais emocionante.
Na produção, tinha ao meu lado o Clemente Netto, que brigou com o Boni e veio trabalhar comigo – com cabeça de Rede Globo, de botar pra quebrar! Descobrimos um fogueteiro que conheci anos atrás e o chamamos para um orçamento. Impossível: comeria 50% do lucro. Fui ao meu amigo Luiz Eduardo Guinle, que adorou a ideia. Ele conseguiu convencer sua mãe, Dona Mariazinha Guinle (dona do hotel), a pagar a metade e eu, a outra metade. Foi incrível! Um enorme sucesso!
Ainda em 1981, como curiosidade, promovi grandes bailes de carnaval no Copa, como a elegante e sofisticada Noite Dourada e o badalado, principalmente na imprensa, Baile das Panteras.
E o primeiro revelou a Xuxa, grande vitoriosa do concurso. Foi ali mesmo que ela conheceu seu futuro famoso namorado, o nosso querido Pelé!
No ano seguinte, 1982, tivemos, como patrocinadora da festa, a Brahma, pertencente à família Kunning, bem antes do trio de bilionários brasileiros (os sócios Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira) comprarem o brinquedinho. Com a Brahma, veio também uma bela ampliação. Implantar mais dois pontos de fogos em Copacabana, no restaurante Mariu’s e outro, no Posto 5.
Virou um acontecimento, é uma marca da cidade. Cresceu, cresceu e, no quinto ano, entregamos para a prefeitura, a RIOTUR.
Quem esteve no segundo ou terceiro ano no Rio foi o ator Arnold Schwarzenegger, que me forçou a lembrar esse evento durante alguns anos. A TV Playboy, que contratou o ator, passou repetidas vezes esse programa de carnaval em sua grade americana. Aonde ia nos Estados Unidos, tinha alguém que tinha assistido.
Passaram-se 40 anos! E essa virada de ano 2021/2022 valeu por minha memória ter sido aguçada e ter a oportunidade de relembrar esse momento. Sempre vejo os fogos. Nesse tempo todo, só um ano eu estava em Paris, e perdi. Na memória, acima de tudo isso, tenho uma foto que saiu na primeira página do JB, em que estou de costas, de mãos dadas com a Gisella (1941-2019), minha mulher, um filho de cada lado e, ao fundo, a queima de fogos. Não consegui achar essa imagem.
O que mais gratifica o homem é ser lembrado. Reconhecimento nem se fala!
O empresário e jornalista Ricardo Amaral se define como malabarista.