Sou um artista visual e me interesso por alguns tipos de linguagem. Já fiz várias produções na TV, como, por exemplo: “Hoje é Dia de Maria”, “A Pedra do Reino”, “Capitu”, “Alexandre e Outros Heróis”, “Meu Pedacinho de Chão” e “Velho Chico”, todos sempre em parceria com o diretor Luiz Fernando Carvalho, na TV Globo. Ao longo de mais de 30 anos da minha carreira, fiz pinturas, instalações, desenhos… Gosto de criar e recriar em cima das minhas próprias criações, sempre voltando às propostas anteriores.
Moro em Nova Iguaçu, e meu ateliê fica em frente à minha casa. Começo minha rotina todos os dias, às 8h; normalmente trabalho 10 horas por dia. Minha inspiração para as obras vem da arte popular brasileira, do Dadaísmo, do neodadaísmo, do neorrealismo e da pop art.
Normalmente trabalho com séries que desenvolvo paralelamente. A série “Brasis”, por exemplo, comecei em 2006, com a primeira obra “Latifúndio Brasil” — um Brasil, de 70 cm, feito de fundo de lata. Retomei o tema em 2012, com a obra “Brasil: um país de pregos”.
Tendo sempre em mente a obra icônica “Mapa Mudo” (1979), de Ivens Machado, criada na época da Ditadura Militar, passei a fazer um relato, quase que diário, dos acontecimentos do País a partir de 2018, quando a economia, a política, o meio ambiente e a cultura do País foram chacoalhadas.
Todo dia, ao ver o noticiário, surgiam ideias de críticas políticas, ambientais e sociais que eu podia colocar sobre aquele molde do mapa brasileiro. A série já conta mais de 30 obras.
A obra “Brasil Carvão” (2019), por exemplo, surgiu em função das queimadas no Pantanal e na Amazônia. Eu fui diretor de arte das séries de TV “O Pantanal e Outros Bichos” e “O Cerrado e Outros Bichos’, ambos a convite dos diretores Amauri Tangará e Tati Mendes. Estive no Pantanal, em 2018, e agora, na Chapada dos Guimarães, em 2022, para as gravações e pude presenciar a degradação ambiental nesses biomas nesse período.
Na série “Brasis”, além das queimadas, fiz obras alusivas à ameaça do apagão, ao uso desenfreado de agrotóxicos, sobre a fome que assola o País, sobre a pandemia, sobre corrupção política, sobre como as pessoas lidam com a realidade com a necessidade de remédios, entre outras. Para cada problema do Brasil, penso numa nova obra “Brasis” a ser criada.
Morar na Baixada Fluminense me faz ter contato com a realidade do povo, e isso influencia diretamente as minhas obras. Assim como minhas raízes nordestinas, os trabalhos dos artistas Farnese de Andrade, Bispo do Rosário, Rauschenberg, muitos outros que vieram antes de mim e muitos dos meus contemporâneos.
Mas, nem só de críticas vive a minha série “Brasis”. Eu também criei obras alusivas à plantação de árvores e à vacinação e outras, mostrando que é importante ser otimista, porque tudo no País são fases, e fases melhores virão.
Foto: Luiza Gomes
Raimundo Rodriguez é animador cultural, diretor de arte e artista visual. Nasceu no Ceará, em 1963. Em 1969, veio para o Rio e, em 1981, foi morar em Nova Iguaçu. Já teve duas galerias de arte físicas e um jornal de arte; atualmente mantém a Caza Arte Contemporânea (galeria virtual). É um dos fundadores do Imaginário Periférico. Seus trabalhos estão em coleções no Brasil e no exterior e podem ser encontrados nas Galerias Patrícia Costa (Shopping Cassino Atlântico) e Cosmos, em Santa Catarina.
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