O jornalista carioca Rod Carvalho, 45 anos, trabalha com audiovisual e, assim como milhares de autônomos, tudo mudou com o coronavírus. Sem renda e com filho pequeno, Rod se ofereceu para fazer compras de qualquer coisa e o que mais pintasse — desde passeio com cachorro a limpeza de carros — para os vizinhos da Gávea, onde mora, cobrando uma taxa. Deu certo. “Fiz a postagem no Facebook, a coisa foi viralizando e todo dia pinta mensagem. Separei uma agenda especialmente para isso e coloquei um limite de até quatro idas ao mercado por dia, porque fico muito cansado. Não tenho carro e, muitas vezes, vou a pé ou de bicicleta e, se a compra for grande, pego um táxi. Já virei um local nos supermercados da região”, conta ele, que começou há uma semana.
Rod, que sai de casa protegido, com álcool gel na mochila e luvas, vai à casa do cliente, pega o dinheiro (ou recebe por transferência bancária), a lista e, caso não encontre o produto, tira foto de semelhante e leva ao endereço combinado. “De repente, virei entregador. Descobri que o trabalho deles é foda, o esforço que eles fazem e ninguém vê. Curioso é eu fazer compras de comida para as pessoas para eu ter o que comer em casa. Só agradeço. Já fui chamado de salvador, herói”.
Também surgiram pedidos, digamos, curiosos, como receber o caminhão de mudança de uma família brasiliense e uma mulher que pediu para comprar tinta de cabelo. “Já fiz compra na chuva para uma cliente asmática, que é grupo de risco, e, nessa quarta (25/03), fiz um tipo de entrega que me deixou muito feliz e eu não havia pensado: fui contatado por uma moça de SP para comprar uma flor para levar aos pais dela, que estão em quarentena, num prédio na Lagoa. Comprei uma orquídea e escrevi um cartão — gastei mais com a flor do que ganhei, mas foi indescritível”, conta