Neste sábado (03/10), na Casa Roberto Marinho, no Cosme Velho, serão inauguradas duas exposições: “Enquanto” e “Livros e Arte”. A primeira reúne a produção inédita de três artistas, feita na quarentena: Carlos Vergara, Luiz Aquila e Roberto Magalhães (que completou 80 anos em 2020).
Foi um incidente cotidiano, durante um café da manhã, que fez Luiz Aquila dar ritmo à quarentena: sua caneca preferida — “uma peça de cerâmica muito bonita, meio bojuda e maternal”, diz — quebrou. Num gesto de lamento, Aquila viu beleza nos cacos espalhados pelo chão. Juntou-os sobre um papel, jogou café por cima, fotografou e imprimiu. A experimentação resultou em 16 trabalhos interferidos com pastel colorido. “Terminando essa série, que funcionou como um aquecimento pra mim, voltei a pintar sobre telas grandes, com grande disposição”, comenta o artista.
Na mesma exposição, estarão as monotipias e pinturas da série “Prospectiva”, de Carlos Vergara, criadas no período de isolamento, a partir de pigmentos naturais trazidos de vários lugares, desde Minas Gerais à Turquia. “Uso um pigmento púrpura vindo do Marrocos, extraído de um caramujo, muito usado no século XVII para tingir as roupas dos nobres”.
A curadoria é de Lauro Cavalcanti, diretor da Casa. “Escolhi os três como exemplos da transcendência e importância da arte para nos ajudar a superar tempos tão difíceis”, diz Lauro.
Já “Livros e Arte” reúne 149 trabalhos de nove artistas, em nove salas do andar superior. A curadoria de Leonel Kaz parte de livros de artista organizados pela “UQ! Editions” em publicações conceituais sobre as obras de de Antonio Dias, Ferreira Gullar, Frans Krajcberg, Leo Batistelli, Luiz Zerbini, Paulo Climachauska, Pedro Cabrita Reis, Roberto Magalhães e Wanda Pimentel.
Detalhe: a maioria dos livros poderá ser manuseada pelo público, que vai receber luvas descartáveis. A sala com trabalhos da carioca Wanda Pimentel (1943-2019) foi montada na casa da artista, a partir de sua coleção pessoal, poucos meses antes de sua morte. As pinturas foram colocadas lado a lado pela própria artista, em conversa com o curador Leonel Kaz. A ideia era recriar, na exposição, o ambiente de suas pinturas, que retratam cenas cotidianas e domésticas, com presença marcante da figura feminina.