Se o primeiro dos 50 dias de carnaval foi assim, imagina o último? Essa é a pergunta de muitos moradores nesta segunda (13/01), diante do caos em Copacabana, com a festa de abertura do carnaval carioca, depois da passagem do bloco A Favorita como atração principal, que reuniu mais de 300 mil pessoas e terminou em tumulto, com relatos de ambulantes jogando garrafas de vidro nos carros da polícia, que responderam com gás de pimenta e de lacrimogêneo. No fim, cinco carros da Guarda Municipal foram quebrados, centenas de atendimentos na região e 25 prisões em flagrantes registradas até o final do evento.
As cenas de destruição ganharam destaque na imprensa internacional — a rede de TV americana “ABC News” disse que a grande comemoração “foi marcada por gás lacrimogêneo, garrafas e confrontos entre policiais e foliões no bairro”, assim como a “RTP Notícias”, de Portugal, afirma que a polícia tentou dispersar a multidão, o que provocou correria na praia.
Segundo Roberto Motta, assessor especial do governador Wilson Witzel, “A Favorita deve ir para o Centro, para Jacarepaguá ou, na falta de uma outra opção, para o lado escuro da lua. Lucro privado, prejuízo público. Esse bloco tinha que pagar por todo o policiamento e ser dissolvido”. E também criticou a Riotur: “Parabéns também à Riotur. Não há melhor forma de promover o turismo do que trazer dezenas de milhares de vândalos para Copacabana para beber na rua, usar drogas e fazer baderna. A pergunta é: o que a empresa ganhou com isso?”
O arquiteto e urbanista Washington Farjado, escreveu um texto que ganhou as redes e entrou para os grupos de discussão: “Produtores de festas, promoters de megablocos e de eventos privados mandam no Rio, sempre com a defesa de que trazem recursos para a cidade. Mentira. Festas/blocos fechados, cercadinhos no réveillon, megablocos no espaço público são operações de marcas. Estas marcas, brands, negócios, produtos, e suas celebridades, agentes, executivos, etc. ganham muito dinheiro e não trazem tantos benefícios públicos. Ou são eventos de consumação fechada, ou funcionam com operadores exclusivos. São eventos para convidados. São eventos de massa para veicular produtos e consumo. Nem criam tantas oportunidades, nem tantas divisas trazem. Isso virou uma praga no Rio. Recursos públicos são disponibilizados para organizar e montar tais ‘festividades’. Marcas e promoters lucram muito. E se o evento dá errado, como aconteceu no Bloco da Favorita, o ônus é todo público. Desordem, quebra-quebra, destruição de patrimônio e o caos no espaço público são danos à reputação do Rio que geram desinvestimentos, afastam visitantes e consolidam a fama de cidade decadente e sempre em desordem”.
O evento teve apoio da Riotur, patrocínio da Ambev (Cervejaria Brahma) e do chiclete Trident, com apoio da vodka Absolut e do gin Beefeater, mas, até agora, nenhum se pronunciou — apenas Carol Sampaio, a produtora do bloco. “Fizemos um show totalmente gratuito para a população carioca, com a participação dos mais importantes artistas da música nacional. Cumprimos com todas as exigências legais estabelecidas pelo Poder Público e contamos com todas as autorizações e alvarás exigidos em lei. O evento, que começou e terminou no horário previsto, e com o público esperado, aconteceu sem nenhuma intercorrência ou registro de violência. Foi um dia com uma festa alto-astral, cheia de alegria e música, que é a nossa proposta. Infelizmente, depois da apresentação do bloco, tivemos questões de segurança pública e ordenamento urbano, que são de responsabilidade do Poder Público e fogem das atribuições da nossa empresa. Agradecemos e nos solidarizamos com o público, que merece lazer, cultura e segurança para ir e voltar dos eventos realizados em qualquer lugar da nossa cidade”, escreveu ela.
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