A artista plástica Suzana Queiroga não conheceu o pai; a perda aconteceu quando sua mãe ainda estava grávida. Foram cinco décadas de dor, dúvidas e saudades deixadas pelo acidente aéreo bem perto do Aeroporto Santos Dumont – uma catarse que ganhou forma no trabalho “Olhos D’Água”, em exposição a partir do próximo sábado (05/10) no MAC, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
O gigantesco inflável expõe a relação de Suzana com a tragédia familiar. Ali estão o azul da Baía de Guanabara, onde o avião mergulhou, e o azul que marcou a vida do pai, que utilizava a cor em desenhos e capas de diários. É uma simbologia complexa, considerando também a localização do museu, defronte à viagem inesperadamente interrompida.
“Lido com essas memórias simbolicamente, o despedaçamento e dissolução do corpo no mar, o fado, a espera de quem jamais virá”, diz a artista. “É um contato cada vez maior que faço com minha origem portuguesa. Aos poucos, conheço esse homem com uma memória construída no hoje, o que talvez revestirá, com algum tipo de membrana, esse buraco enorme que sempre senti dentro do peito”. A obra ganhou o 5º Prêmio de Artes Marcantonio Vilaça, da Funarte e, em contrapartida, passará a fazer parte do acervo permanente do MAC. “Olhos D’Água”, lágrimas que, agora, parecem abraçar, envolver, confortar.