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Depois de estudar Psicologia e Arqueologia, Beatriz Kuhn fez formação psicanalítica na Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio e pertence à IPA (International Psychoanalytical Association). Quando sobra tempo, pode ser também militante política, como aconteceu em 2004: no auge da violência carioca, fundou o Movimento “BASTA!” de repercussão nacional. Bia Kuhn, instalada na Lagoa, está entre aquelas que vivem de consultório lotado. Foi convidada aqui para dar dicas que podem contribuir para que você tenha uma boa cabeça. ([email protected]).
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A ética se constrói
Aquele que foi capaz de transformar a moral em ética… O moralista não tem uma cabeça boa; menos ainda um sujeito amoral ou imoral. A ética se constrói de dentro pra fora, a partir da percepção do outro, da empatia que nos coloca no lugar dele e nos impede de lhe fazer mal. É solida. A moral é imposta de fora pra dentro, goela abaixo, e é sustentada pelo temor à penalidade.
Rir de si próprio
Muitos pontos para aquele que se tornou capaz de rir de si próprio e das vicissitudes da vida. Temos aqui os dois pontos mais indicativos da evolução de uma pessoa ou de um grupo cultural: ética e senso de humor.
O outro não é um objeto
Ser capaz de perceber que o outro é um sujeito (pessoa), e não um objeto de uso pessoal. Parece simples e banal, mas não é: trata-se de uma aquisição psíquica.
Imaginar o que sente
Empatia. Uma vez percebida a existência de uma pessoa no outro, ser capaz de colocar-se em seu lugar e imaginar o que sente.
Aceitar as diferenças
Tolerância à alteridade. Não é possível ter-se uma cabeça boa, sem saber lidar e aceitar as inevitáveis diferenças entre o eu e o outro.
Duas doses de ceticismo
Quanto mais primitivo for o sujeito ou o grupo cultural, mais estará mergulhado em crendices e magia. Pessoas e sociedades evoluídas encaram mais de frente e com menos ilusão o desamparo e a impotência humana. Vide o Haiti…
Idealizações moderadas
Na paralela das crendices do mundo mágico, encontramos as idealizações. Poucas coisas contribuem tanto para a infelicidade da alma como o excesso de idealizações. Nem nada e nem ninguém são satisfatórios quando comparados a essas idealizações, a começar pela própria pessoa.
Inveja e gratidão
Ter feito o percurso que leva da inveja à gratidão. O que subsidia a inveja é a idealização da vida do próximo. É aquele cara que acredita no que vê na revista “Caras” e acha que só a vida dele é que é “Bundas”. Quanto mais a pessoa é capaz de perceber que estamos todos no mesmo barco, que Deus não deu asas a cobras, mais e mais se torna capaz de reconhecer e valorizar seus ganhos e, por fim, agradecer por eles.
Solidão é para felino
Autonomia e independência, para conjugar no singular, toda vez que se faz necessário ao longo do percurso. A autossuficiência não é para nossa espécie, que é gregária. Solidão é coisa para felino – leopardo é que curte viver sempre sozinho.
Bom é aqui e agora
Resumindo: cabeça boa tem aquele sujeito que deixou de ser patológico e tornou-se um “pato lógico”. O que é isso? É aquele cara que abandonou as falsas esperanças, as grandes pretensões e desistiu de choramingar suas mazelas, porque a lógica se sobrepôs ao medo e lhe fez ver que bom é aqui e agora, mesmo que imperfeito e insatisfatório; depois, só piora… Como é “lógico”, sabe que seu destino inexorável é tornar-se um “magret de canard” (peito do pato).