Silviano Santiago, Maria Helena Carneiro da Cunha e Antonio Cícero /Foto: Cristina Lacerda
Foi um grande vaivém na Travessa de Ipanema, nessa segunda (30/09). Fila de mais de duas horas, mas sem o cansaço de qualquer outro tipo de fila, seja ela de um hospital ou de um torneio de tênis, de um banco ou de um festival de música, considerando o nível das conversas — rsrsrsrsrsr. Mostrou também a versatilidade de Silviano Santiago lançando “O grande relógio — A que hora o mundo recomeça” (o primeiro de uma tríade de ensaios), Editora Nós.
Na livraria, amigos de todo perfil e área de atuação, com um traço comum: amor pelo autor, sempre vibrante, na ficção e na realidade, com senso de humor, em conversa particular ou de salão; e pela literatura. Silviano, com mais de 30 livros, premiado com Oceanos, Machado de Assis, Jabuti (três), Casa das Américas, Faz Diferença, Camões, levantava-se para receber cada uma das pessoas. Algumas delas quase botavam a vida em dia, digamos assim, falando desde o tempo que Silviano foi doutor pela Sorbonne, de críticas literárias, de quando ele foi professor universitário na Europa, nos EUA. Em dado momento, chega uma jornalista e brinca: “Vamos pular para os tempos atuais; estou esperando o meu autógrafo há mais de uma hora”. Foi aí que deu uma acelerada.
Perguntado sobre o seu atual momento, Silviano comentou: “Na minha longa carreira, um novo livro não representa um passo seguinte; representa antes um recuo estratégico. Quero conhecer melhor o contexto socioeconômico e literário que me permitiu, no passado, dar alguns e muitos passos a mais ao publicar novos livros. Agora, eu me coloco na pele de dois grandes romancistas cujas obras demonstravam a obsessão pela busca do tempo perdido. Buscamos a felicidade, mesclada com a paixão de viver e o temor da morte iminente. O lançamento de ‘O Grande Relógio’ é isto: redescobrir-se nos outros que descobriram melhor o que nós todos experimentamos depois da longa vida, isto é, na velhice. Quando o meu mundo fecha as portas, ele também as reabre para as novas gerações de escritores. Termino e entrego a chave da literatura para um outro que eu fui há muitos anos, e não sou mais.”