Na vida moderna, a depressão é um transtorno mental muito frequente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 5% dos adultos em todo o mundo sofrem de depressão; são cerca de mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades. As mulheres são as mais afetadas, segundo especialistas, alertando também que a crise de saúde global permanece negligenciada. A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo.
O Brasil é o país com a maior prevalência dessa doença na América Latina, de acordo com o relatório “Depressão e outros transtornos mentais”, da Organização Mundial da Saúde (OMS). O país tem apenas 19 psicólogos para cada 100 mil habitantes no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. Dados do último mapeamento sobre a doença, realizado pela OMS, apontam que 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o equivalente a 11,7% milhões de brasileiros. Em seguida, aparecem Cuba (5,5%), Barbados (5,4%), Paraguai (5,2%), Bahamas (5,2%), Uruguai (5%).
Nosso país é o segundo do mundo onde mais se faz cirurgia plástica, em número de procedimentos cirúrgicos estéticos, abaixo apenas dos Estados Unidos. É também o segundo do mundo em publicações científico-cirúrgicas. Alguns pacientes depressivos que chegam ao consultório, desejando fazer uma cirurgia plástica, começam a tomar medicamentos e apresentam uma melhora. Eles se sentem tão bem que pensam estar curados, param de tomar remédio e novamente caem na depressão. Hoje, o consumo dessas medicações antidepressivas é enorme e vem aumentando: quem você não imagina, toma. Um dos fatores que agravam esse quadro depressivo talvez seja o sentimento de frustração por não conseguir atingir o padrão estético irreal imposto pelas mídias sociais. As pessoas estão ali se exibindo com filtros, maquiagem e luz, passando a falsa imagem de serem felizes e belas, suas vidas são perfeitas; aquela foto, porém, não é real.
O ser humano pode falar tudo, mas tem que ser coerente com aquilo que ele é. Se o médico perder a coerência interna, ele desaba, ele se desestrutura completamente. Se o paciente está muito deprimido, ele não pode ficar feliz com a cirurgia — pode estar bem, do jeito que for, mas ele vai criar um problema qualquer para manter o perfil deprimido e para manter-se coerente com as crenças limitadoras que ele traz dentro da sua própria cabeça.
Portanto, já no primeiro contato, o paciente emite uma série de recados, mensagens; se o médico perceber que ele tem o perfil depressivo, deve contraindicar a cirurgia naquele período e orientá-lo a se operar em outra fase, sugerir que espere um pouco mais. Não vai chamá-lo de deprimido, obviamente. O médico vai mostrar que, antes, ele deveria se dedicar, por exemplo, a fazer uma dieta para emagrecer ou deixar o tabagismo e, assim, tentar convencê-lo de que esse procedimento seja feito em uma etapa posterior. E nisso o médico vai ganhando tempo e ficando livre. Isso se justifica porque a cirurgia plástica é uma especialidade cujo modus operandi é a medicina psicossomática; portanto, é preciso que tenha essa formação para que possa perceber e orientar, da melhor forma, todos que o procuram.
A maioria dos pacientes nos consultórios de cirurgia plástica são mulheres, mas, aos poucos, o número de homens vem aumentando, e existem diferenças no comportamento de ambos: na cirurgia plástica, o homem coloca-se de forma mais objetiva. Todos que chegam, independentemente do sexo, expressam uma insatisfação pessoal, porém o homem é mais direto, especifica com detalhes o que gostaria, quais são as razões de sua insatisfação; com isso, permite fazer com que o médico o oriente. Às vezes, as pessoas nos procuram para operar a face, sendo que o problema dele é, por exemplo, o nariz.
Na cirurgia plástica, a mulher depende muito dos seus ciclos naturais, da fase em que ela se encontra na vida, das suas relações interpessoais, da riqueza ou não desses relacionamentos. O sexo feminino é mais voltado para o social, ou seja, depende muito da forma como se coloca e se expõe socialmente. Nisso, ela expressa os seus desejos e os desejos do grupo ao qual ela se impõe. Ela evidencia eventuais fragilidades de forma mais clara, e isso exige uma postura muito segura e ética do próprio cirurgião. Por isso, é comum o cirurgião ter a consultoria de uma psicóloga, mas isso é ele que tem de perceber; afinal, quem faz o pós-operatório é a cabeça do paciente.
Alberto Caldeira é mestre e doutor em cirurgia plástica, membro-titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), além de pertencer a mais de 30 sociedades médicas da especialidade e afins. Tem habilitação ao Exercício Profissional da União Europeia. Foi também médico residente do professor Ivo Pitanguy.