Quantas mulheres existem dentro de uma única mulher? Quanta força uma mulher é capaz de ter? Eu, por exemplo, sou um conjunto de muitas mulheres que me ensinaram a ser quem sou hoje. Com minha mãe, aprendi a ser resiliente; com minha irmã, a ser doce; com minhas avós, que precisamos sofrer caladas muitas vezes; com as madrinhas, tias, primas, que a família pode ter muitos problemas, mas é onde encontramos apoio; com minha sogra, que conseguimos suportar a maior dor de todas: a perda de um filho; as minhas professoras que me ensinaram a ler o mundo; e as amigas… O que seria de mim sem vocês? Carrego comigo um pouco de cada uma. Aprendi observando e até imitando, mas o melhor de tudo é que aprendi a ser forte… E com vocês, mulheres!
Hoje vejo que continuo aprendendo e com outras mulheres também. Há pouco mais de seis meses, com meu canal no YouTube, o D’Anne-se, tenho a oportunidade de conhecer ainda mais o universo feminino. É um espaço onde só entrevisto mulheres e, a cada episódio, um novo aprendizado. Não que seja contra os homens ou que eu queira levantar a bandeira do feminismo. Na verdade, reconhecer a força feminina não significa desvalorizar o masculino; pelo contrário, é necessário entender que a verdadeira força surge a partir do equilíbrio entre essas energias. Quando falamos em força, muitas vezes pensamos em poder físico, mas o que dizer da força de uma mulher que chora ao relembrar um estupro na infância? Da profissional competente que vê seu sonho ir pelo ralo quando colapsa com um burnout? Da mulher que sonha em ter um filho, e ninguém avisa que congelar os óvulos não é garantia de nada.
Essa é a força do feminino, que muda um padrão de beleza, assume seus cabelos grisalhos, tira o silicone pra ter um corpo mais saudável. Um corpo cheio de tatuagem também. A força da mulher que não se enquadra no padrão de “corpos perfeitos” imposto pela indústria da moda e vê aí uma forma de se destacar oferecendo moda pra todos os corpos. Da delegada e da perita criminal que, apesar da pistola na cintura e de todas as tragédias sociais que encaram todos os dias, não esquecem o batom vermelho e não se acostumam com a violência. A força da mãe que percebe que seu filho de 11 anos não se encaixa no gênero que nasceu e ajuda a filha a se encontrar por inteira, de corpo e alma, permitindo que ela se transforme e se encontre. A força da mulher que se conhece suficiente pra entender que ela pode se permitir viver um amor livre em um relacionamento aberto. Ou da mulher que foge do seu país, o Irã, o mais fechado do mundo para as mulheres, e encontra a liberdade no Brasil pra ser e viver como sempre desejou. E a força das bruxas? Aprendi que todas nós, mulheres, somos um pouco bruxas, embora algumas pessoas chamem de sexto sentido. A força das terapias e dos orixás, da constelação familiar, do I Ching, das runas, e tantas outras alternativas que nos ajudam no nosso autoconhecimento.
As mulheres múltiplas, mulheres do samba, mulheres mães de um, dois, doze filhos.
O feminino está aí, em tudo, na força que cria, que questiona, que pensa, na resiliência emocional, na forma de liderar, de criar e transformar espaços e até uma sociedade inteira. Reconhecer e valorizar a força feminina não apenas empodera as mulheres, mas também enriquece toda uma sociedade, e essa voz precisa ser ouvida por todos.
Recentemente, depois da gravação de mais um episódio do canal, uma convidada falou: “Engraçado, normalmente, numa entrevista, cada um fica de um lado; aqui fica todo mundo do mesmo lado!”. Ela entendeu tudo, no D’Anne-se, estamos todas do mesmo lado. Por que assim fica mais fácil olhar na mesma direção, pra frente, olhar pro presente e pro futuro. Um futuro melhor pra todos homens e mulheres, porque está aí a real força feminina.
Anne Lottermann é jornalista. Depois de trabalhar durante 11 anos na Globo e ao lado de Fausto Silva, na Band, entre 2022 e 2023, acaba de retornar à TV no comando do programa “Quem Sabe, Ganha!”, na TV Cultura, que estreou esta semana. A atração, que vai ao ar semanalmente, às 19h30, promete levar diversão e conhecimento ao público numa espécie de jogo de perguntas e respostas. A gaúcha também comanda um canal no YouTube, o D’Anne-se. “Posso dizer que é um espaço de cura pessoal porque nunca encontrei liberdade dentro da minha casa pra falar abertamente sobre qualquer assunto e sei que essa é uma realidade em muitas casas”, diz ela. Anne foi casada com o empresário Flávio Machado, que morreu de câncer no peritônio em 2017; com ele, teve os filhos, Leo e Gael. Atualmente está namorando o publicitário Luiz Fernando Musa.