Minha obsessão pela lasagna perfeita poderia ter se tornado uma neurose se não fosse por um detalhe: ela mora logo ao lado, especificamente, no bairro ao lado. Bem no finzinho de Ipanema, quase em Copacabana, é onde habita meu maior desejo: a lasagna à bolonhesa da La Veronese. Foi por causa dela que quase perdi o título de Masterchef Brasil.
No estúdio gelado, foi que percebi, com a barriga mais gelada ainda, com muita felicidade, o tema da quarta prova da competição: fazer uma lasagna em 1 hora. Àquela altura, já tinha deixado claro que massa fresca era a minha praia, então fiquei confortável… Confortável até de mais!
Entrando no supermercado, tinham dois caminhos a percorrer. O primeiro, fazer como meus colegas, ir ao clássico: lasagna à bolonhesa. Foi aí que a Veronese entrou na história. A lasagna da Veronese é tão perfeita que não consegui ousar reproduzi-la ali, na correria, sem o cuidado que ela merece. Decidi, então, ir por um caminho diferente: uma lasagna vegetariana de pesto com cogumelos. O resultado foi trágico; acabei me embananando e sendo eliminada. No final, tudo deu certo: ganhei a repescagem e venci o programa, transformando assim minha jornada em um dramalhão digno de ópera italiana.
Ao contrário da minha história, cheia de altos e baixos, a La Veronese tem-se mantido bem linear desde que abriu, em 1956. A casa é impecável. Melhor frango assado? La Veronese. Melhor palmier? La Veronese. Melhor minipizza (um espetáculo à parte)? La Veronese, e, claro, a melhor lasagna: La Veronese.
O que faz a “bendita” lasagna ser tão especial? Bom, primeiro, a massa, que você pode, até, comprar as folhas separadas e cozinhá-las em casa, montando a lasagna no sabor que você quiser.
Depois, a bolognesa, com a carne macia, claramente cozida lentamente e superbem temperada e, claro, o molho branco, que, além de intercalar molho e massa, distribui-se com muita generosidade na cobertura.
Pedindo em casa ou comprando in loco, é impossível sair de lá com menos de 1 quilo dessa delícia, que hoje custa 86 reais, valor mais do que razoável, considerando o absurdo dos preços por aí.
Além dos sabores superequilibrados, tem outra coisa que adoro sobre a lasagna da Veronese: ela vem cozida, mas não gratinada. Então, quando abro a quentinha e vejo aquele mar cremoso de molho, decido em que oceano nadar: o da lasagna gratinada, potente e crocante, com cara de restaurante, ou o da lasagna molinha, com uma textura quase de paladar infantil, com jeitinho de que foi surrupiada da geladeira antes da hora, mas que eleva ainda mais os sabores primários do prato.
Um escândalo de tirar Garfield do prumo, a La Veronese é um desses lugares icônicos que, sabemos, sempre fará parte de muitas gerações. É o lugar perfeito para você matar a saudade dos seus sabores mais amados e das pessoas, também. Toda vez que como palmier, lembro o meu amor, a pizza, de uma funcionária e amiga querida, o frango, da minha avó que nos deixou há pouco. Assim, meu álbum de sabores vai ficando completo. Nas fotos, a paisagem é sempre a mesma: Rua Visconde de Pirajá, 29 A, Ipanema.
Leia as colunas anteriotes de Izabel:
“A Padaria Ipanema vai virar uma padaria paulista, seja lá o que isso significa”.
“Gosto mais de restaurantes do que de muita gente”.