O Rio está fincando de vez sua vocação como a cidade dos grandes eventos. Nesta segunda (06/05), depois de plenária na Liesa, foi confirmada a decisão, junto aos representantes das escolas do Grupo Especial, que o carnaval vem aí com mais um dia — além dos desfiles de domingo e segunda, agora também na terça.
A inovação começa a valer em 2025, com quatro escolas em cada dia. Outra decisão inédita é que as notas dos julgadores passarão a ser fechadas ao final de cada dia, e, não, no final dos desfiles.
“Dentro dessa iniciativa, queremos viabilizar uma redução no preço das arquibancadas, com o objetivo de tornar os ingressos ainda mais acessíveis. Também vamos proporcionar que mais pessoas estejam no Sambódromo em dias diferentes”, disse Gabriel David, presidente da Liesa.
Segundo a Liga, o espetáculo vai incluir ainda mais atrativos, com novidades para prender o público na Sapucaí, depois do final dos desfiles, até o amanhecer. Com essa alteração, os desfiles mirins (que aconteciam às terças) vão para um novo dia da semana. O Desfile das Campeãs foi mantido no sábado, dia 8 de março, com as seis primeiras colocadas.
As redes já estão naquela polarização de opiniões, ganhando os contras de quem entende de carnaval, como o historiador Luiz Antonio Simas, um expert da vida carioca: “Três dias, apenas quatro escolas por dia, com ‘atrações’ para manter o público na avenida depois. As escolas de samba caminham para virar coadjuvantes de seus próprios desfiles”.
Já Lucas Prata Fortes (Caju), redator e roteirista na Globo, diz: “São enormes as consequências e as dúvidas sobre a transformação do carnaval para 3 dias. Em preço, acesso, segurança, julgamento, rotina, rito etc. Soa como uma decisão apressada, baseada exclusivamente em ‘mercado’. Em tempos de carnaval-linkedin foi ladeira abaixo. Dentre as milhares de consequências da decisão e a profunda quebra de ritos que ela acarreta, confesso um medo particular do fim dessa beleza. Faturar mais, ter mais camarote, mais turista, mais anúncio, mais dinheiro. Tantas brechas pra que funcione”.
O jornalista Romulo Tesi, especializado na cobertura de carnaval, diz que “não há atração especial melhor no amanhecer do que o arrastão puxado pela última escola”.
Daniel Botelho, diretor e roteirista do documentário “Chegou O Carnaval”, comenta: “Em breve no Rio, vem aí o carnaval da inovação — o desfile de escolas de samba sem escolas de samba. É piada, mas fico com receio de curtirem a ideia e tentarem emplacar já pra 2026”.
O geógrafo carioca Vinicius Nunes, viciado na folia, é incisivo ao dizer que “quem tiver defendendo essa pataquada ridícula, é muito pior do que quem inventou essa história. Enquanto aplaudem três noite de desfiles, profissionais do carnaval seguem sem direitos garantidos, trabalhando em condições precárias… O que mais me mata é que nenhum sambista como nós foi consultado e os caras tomam uma decisão que não favorece o espetáculo”.
Foto: Alexandre Macieira/Riotur