O fim de um relacionamento é sempre doloroso, mesmo para quem deixa pra trás uma história de amor porque quer, e não porque o outro quis. Além da dor da separação, uma das sensações mais esquisitas do fim de uma relação é perceber que a pessoa, até então mais próxima de você, agora é um total estranho e que talvez vocês nunca mais se vejam.
Por isso que eu gosto mais de restaurantes do que de muita gente. Se, por algum motivo, houver um afastamento, se eu me mudar de cidade, de hábitos ou mesmo se só quiser dar um tempo, não importa: eu sempre posso voltar para aquele prato preferido, que é tão bom na memória quanto na realidade. Sempre disponível mediante reserva.
Falando em reserva, se tem um lugar que é bom reservar porque está sempre cheio, é o Filé de Ouro, motivo que me fez dar um tempo na nossa relação. E apesar de a vida ter conduzido cada um para um lado, afastando os corações que batiam em uníssono, a saudade que eu sentia era como uma música que não saía da cabeça, uma lembrança constante na minha memória.
Nosso reencontro foi lindo e casual. Fim de tarde de um domingo de verão, sem planejamento, me veio aquele desejo: picanha mal passada à francesa do Filé de Ouro. E assim que entrei pela porta e tive o meu encontro íntimo entre o paladar e a memória, foi que entendi que um restaurante como esse preserva, em suas paredes e em seus pratos, as memórias de um passado que desafiam as fronteiras do esquecimento.
Os sabores continuam os mesmos, impecáveis. Filé Oswaldo Aranha com seu alho frito e farofa imbatíveis; o feijão divino que acompanha todos os pratos; a batata-palha supercrocante e feita na hora; o acompanhamento à francesa; e, claro, a carne, que sempre vem exatamente do jeito que o cliente quer. Escolha sua peça (filé mignon, picanha ou contra), seu acompanhamento e seja feliz.
Depois do nosso reencontro, já voltei algumas vezes ao Filé de Ouro; cada incursão é uma celebração da continuidade desse amor até então adormecido. Os sabores conhecidos ainda encantam, mas agora há também a liberdade de explorar todo o cardápio, como o acompanhamento à prussiana, meu provável próximo pedido.
Filé de Ouro, sei que nosso amor não será imortal, posto que é chama, mas tenho certeza de que será infinito enquanto a carne estiver no ponto. Até logo!
Ilustração: Izabel Alvares