Eliete Bouskela toma posse nesta quinta (07/03), às 20h, na Academia Nacional de Medicina. É a primeira presidente mulher em seus 194 anos de existência. A médica, de 73 anos, é mineira de Uberlândia, mas carioca desde 1960, com grande parte da vida dedicada à microcirculação e obesidade. “Passei a semana razoavelmente tranquila para a posse, com apenas uma noite em claro”, diz ela, bem-humorada.
Eliete é professora-titular da UERJ, onde coordena o Centro Multidisciplinar de Pesquisa da Obesidade, conhecida no campus como “Batwoman” (“Mulher morcego”) – nem ela, nem quem ouve se cansa da história: “Viajei de Seattle para Washington com 20 morcegos numa caixinha de papelão. Quando passei pelo raio-x, a moça perguntou o que eu estava carregando e respondi que eram pintinhos. Viajei com eles embaixo do meu assento no avião. Cheguei ao aeroporto de Washington, e estava lá o veterinário me esperando com mais 30 morcegos, mas eu tinha licença só para 20. Fui ao guichê da Varig com os 50 em uma caixa e a atendente disse: ‘Precisamos contar esses morcegos’. Eu respondi: ‘Eles vão voar. Você vai abrir a caixa aqui?’. Obviamente, não abrimos”, conta ela, que conseguiu chegar com todos intactos no Rio.
A pesquisadora montou então um morcegário na Uerj, mas ficou receosa de os alunos contraírem raiva, e os substituiu por ratos, camundongos e hamsters, que, como brinca, não tinham tanto glamour.
Dos quase 700 integrantes da Academia já eleitos desde 1829, apenas 10 foram mulheres – as últimas três, no último ano – “um progresso enorme”, comemora a médica, que entrou na Academia em 2004, tendo sido a quinta mulher eleita. “Estou acostumada a ficar junto de muitos homens. Tomar posse na véspera do dia da mulher é importante porque me faz refletir o quanto ainda as mulheres precisam caminhar”, diz.
Ela também é membro da Academia de Medicina da França, diretora científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (FAPERJ), integrante da Academia Brasileira de Ciências, da European Academy of Sciences and Arts.