Nessa segunda (26/02), no Estação Net Botafogo muita gente ficou em pé, para a sessão de “Jardim de Guerra” (1968), primeiro filme de Neville d’Almeida, convidado para inaugurar a mostra “Quinzena dos Realizadores”, no Festival de Cannes, em 1969.
O cineasta estava no evento, assim como Antônio Pitanga, um dos atores do longa, cujas cenas foram cortadas, à época, pela censura. “Pitanga é o ator negro pioneiro do cinema mundial que está no vanguardismo, numa época em que o preconceito racial ainda era alto, mais do que atualmente”, disse Neville.
Uma das cenas cortadas, que estão na versão integral, é um discurso inflamado de Pitanga: “Essa negritude é minha bandeira de luta, é a cuspida concreta que eu dou em vocês, brancos, nessa nojenta atitude em plena era industrial. Pra vocês, eu sou macaco, mas isso vai acabar. São 400 anos de trabalho escravo nos canaviais, nas minas de ouro e nos campos de algodão. Tudo foi para Portugal, a fim de fazer a riqueza do Brasil. Nada foi pago. Isso vai ser cobrado com juros”.
O filme, com argumento e roteiro do cineasta com Jorge Mautner (inspirado no seu livro “Kaos”), foi premiado no festival de Brasília. Esteve em vários festivais na Europa, e foi consagrado como um dos ícones do cinema experimental.
É a história de um jovem sem perspectivas, vivido pelo ator Joel Barcelos, que se apaixona por uma cineasta e é injustamente acusado de terrorismo por uma organização de direita que o prende e tortura. A cópia original e sem cortes estava guardada no Arquivo Nacional, no Rio.