Nasci e cresci no interior do estado, em Volta Redonda, mas, quando cheguei ao Rio, para cursar Arquitetura, tive Botafogo como minha acolhida: estudei na Universidade Santa Úrsula. O campus fica justamente ali, no entroncamento entre Botafogo, Laranjeiras e Flamengo, junto da praia, ao lado do viaduto da Pinheiro Machado. O ir e vir e estar na faculdade me tornou íntimo da região, que, na época, há 30 anos, sofria da alcunha de ser apenas “de passagem”. Portanto, durante minha trajetória profissional, tive a alegria de poder ver e participar da transformação do lugar onde iniciei minha formação, num dos bairros cariocas mais pulsantes e inovadores.
Embora bem localizado, no entremeio de Pão de Açúcar, Cristo, Lagoa e Copacabana, Botafogo era conhecido como o “irmão feio” dos bairros da Zona Sul, sem o mesmo charme dos demais, mas agora acolhe as diferenças e novidades de diversos setores: moda, gastronomia, design e arquitetura. O bairro revela-se um lugar multicultural, rejuvenescido, que abraça as mais diversas novidades da economia criativa. Do dia à noite, da praia ao restaurante, do teatro ao cinema, do museu ao show, da cafeteria ao bar, da creche à universidade e até do hospital ao cemitério, Botafogo reflete um Rio que se reinventa em uma região quase autônoma, passando pelos melhores colégios cariocas e pelo Rio Sul, um dos shoppings mais antigos do país e mais importantes da cidade.
Abrigando também muitas universidades no entorno, como a própria Santa Úrsula, onde estudei, Botafogo mostra-se para o jovem, sedento por inovação, como um bairro moderno, que propõe uma forma plural de ocupar a cidade e de se expressar com total liberdade. Hoje, é um lugar efervescente para ver e ser visto, um grande palco para o lançamento de tendências de dentro e fora do Rio – inclusive, foi apelidado de “BotaSoHo”, em referência divertida ao icônico bairro nova-iorquino, conhecido pela sua cena eclética.
O mercado imobiliário, área onde atuei em grande parte da minha carreira, também reflete essa profunda transformação, com diversos lançamentos em Botafogo, na última década. Ao lado do meu sócio Fernando Costa e da equipe multidisciplinar da Cité Arquitetura, já criamos mais dez projetos na região, chegando com novidades para 2024. O Sorocaba 112, há 11 anos, marcou nossa chegada ali e, em 2023, o conjunto Highlight Spotlight tornou-se realidade, consolidando nosso papel nessa trajetória de renovação. Nesse meio tempo, projetamos também o D’Oro Botafogo, o RG33, o Pinheiro Guimarães 75, o Volp 40, o Guilhermina e o Visi.
Para nós, como arquitetos, é um terreno fértil de mil e uma possibilidades. Marcada pela interação entre edifícios modernos em altura e antigos palacetes e pequenas vilas, a diversidade de Botafogo recebe muito bem as inovações arquitetônicas de forma despojada, abrindo caminho para criações ímpares, que talvez não seriam possíveis em outros lugares da cidade. Sem dúvida, é um bairro único! Contar e reinterpretar sua história através da nossa arquitetura é algo verdadeiramente inspirador para nós, na Cité, e que me traz pessoalmente grande felicidade, como alguém que escolheu o Rio de Janeiro como lar e deu, em Botafogo, seu primeiro passo como arquiteto.
Celso Rayol é arquiteto e um dos fundadores da Cité Arquitetura. Desde 2003, é professor na Escola de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio e atuou como presidente da AsBEA-RJ (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) de 2019 a 2022; atualmente é vice-presidente de Relações Institucionais da AsBEA-RJ. Ganhou prêmios e menções nacionais e internacionais, incluindo concursos do IAB, os Prêmios Domus e Saint-Gobain, da AsBEA. Com a Cité, ganhou o Arquiteto do Ano junto ao seu sócio Fernando Costa, pelo Destaques Ademi 2022. Sua trajetória de 10 anos de escritório foi publicada com exclusividade pela Monolito #53 e participou também da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2023.