“O futuro chegou, e a inundação de metrô e ruas não é exclusividade do Rio, tendo acontecido no ano passado em diversos países do Hemisfério Norte tidos como ‘desenvolvidos’. Portanto, com a natureza, não há discernimento entre pobres e ricos: quem estiver no lugar errado e na hora errada vai sofrer as consequências. É evidente que as classes socioeconômicas menos favorecidas são as mais afetadas por estarem geralmente em áreas de risco. No entanto, dependendo de onde a chuva caia, não há ricos ou pobres para o protocolo da natureza”, diz o biólogo Mario Moscatelli, ao ser procurado pela coluna, depois da tragédia desse fim de semana, que deixou 12 mortos.
Moscatelli relembra as imagens de um sobrevoo em 2019, no qual alertou para as iminentes tragédias anuais de verão. “O temporal que afetou principalmente os municípios da Baixada é apenas mais um para a série de temporais e suas nefastas consequências. As próximas tragédias estarão diretamente associadas quase exclusivamente ao local onde ocorrerão os próximos dilúvios, visto que o ‘novo normal’ climático — como previsto e alertado há ao menos três décadas — é esse, ou seja, água caindo em 24 horas, quando o esperado era para um mês. Vivemos, todos sem exceção, uma verdadeira ‘roleta climática’, em que praticamente nenhum lugar tem capacidade de arcar com as décadas de descaso social, econômico e ambiental”, explica ele.
“Precisamos nos conscientizar de que a brincadeira com o monstro que ajudamos a criar ou fortalecer vai cobrar valores cada vez mais altos da sociedade. Para a natureza, um intervalo de tempo de quatro anos é menos do que um suspiro. E, diante disso, está mais do que claro que já passamos do tempo das procrastinações!”, finaliza.