Temos falado bastante a respeito do excesso de exigências no mundo do trabalho e de seus impactos na saúde mental (individual e coletiva). Mas você já notou a quantidade de conteúdos in-crí-veis que rolam em nossos feeds nas redes, o número de experiências UAU e o orgulho GIGANTE que as pessoas estão compartilhando sobre as suas realizações, que precisam urgentemente ser contadas ao mundo?
Nada contra emoções intensas, por favor! Mas é que, cá entre nós, não seriam elas eventos que estariam no campo do extraordinário, da exceção à regra? O que chama a atenção é a quantidade de coisas legais, superinteressantes e megabacanas que se tornam “incrivelmente” corriqueiras!
Nos anos 1960, as experiências fantásticas vinham do consumo de alucinógenos. Exatamente nessa mesma década, se passa o filme americano “Os incríveis”: animação “retrofuturista” de uma família de super-heróis, produzida pela Pixar em 2004.
Serão as emoções descomunais, ou os feitos super-heroicos, uma pista do que estamos buscando na vida superlativa?
Ao mesmo tempo em que questionamos as exigências excessivas no trabalho e na vida — que nos dão o vergonhoso destaque internacional nos índices de depressão e Burnout —, nós mesmos ajudamos a criar a pressão por um cotidiano pleno de eventos arrebatadores, esplêndidos, formidáveis, excepcionais.
Falamos em empresas e líderes humanizados, mas não resistimos à tentação de vestir nossas capinhas de Super-homem, Batman, Thor e outros — de vestir e exibir!
Esse processo de internalizar as exigências já foi bem explicado pelo filósofo e ensaísta sul-coreano Byung Chul Han, na “Sociedade do Cansaço”, livro bem discutido também no meio corporativo.
Precisamos ir além de tornar Chul Han hypado nos meios organizacionais. Não tem nada de errado em ter uma vida dentro do “crível” e ainda, sim, prazerosa e instigante! A vida “UAU” dá mesmo uma canseira imensa. Ops, uma canseira “innnncccrrríííível”!!!
“Menos”, como se costuma dizer!
Para nós, um 2024 possível!
Jacqueline Resch é psicóloga, sócia-fundadora da Resch RH e professora da PUC-Rio. É especialista em Psicologia Clínica pelo IPUB/UFRJ, MBA COPPEAD, Consultora Organizacional, Coach, Designer de Conversas e Facilitadora de Diálogos. É certificada nas Práticas de Colaboração e Diálogo pelo Taos Institute e pós-graduada em Perspectiva e Prática Profissional Generativa, Diálogos Generativos pela Universidad de Manizales, Colômbia.