Trattoria é um casa de comida italiana popular, geralmente sem chef; vem da palavra francesa “traiteur”, ou seja, tratar, preparar. Geralmente serve “pasta” (massas) que vai do tradicional espaguete à bolonhesa e pappardelle com ossobuco — para os fortes e para os mais entusiasmados em rever a ancestralidade fincada na Bota. No meu caso, minha avó materna, Felicidade Francesca, era filha de imigrantes que embarcaram num navio rumo ao Brasil. O destino? As lavouras de café em Minas Gerais, onde a “Dona Neném” aprendeu que que bom mesmo no macarrão é galinha caipira, criada no terreiro de casa. Estou aqui para contar isso graças a ela!
Se comida italiana é memória e afeto, imagina um cardápio novo inteiro, cheio da boa lembrança. Caso do Parla!, instalado não faz muito tempo, atrás do Museu da Imagem e do Som (MIS), em Copacabana, onde pizzas, massas, arancini, bruschettas e vinhos italianos convivem em harmonia plena. Em tempos de ataques, como é refrescante escrever a palavra “harmonia”.
Para iniciar no brinde, são 60 rótulos da Itália e do novo mundo também, a partir de R$ 90. Thacio Chaves, o sócio proprietário (também mineiro), herdou a adega do antigo Simon Boccanegra (mesmo nome da ópera de Verdi), italiano mais chique que fez fama ali pelo capelletti de ricota coberto por molho bisque (de crustáceos). Depois dele, ainda teve a Demi-Glace, uma casa de carnes que entrega tudo. A dica preciosa: no happy hour, tem taça em dobro por R$ 25. A razão para tantos jovens afoitos por novidades a $ camaradas. A partir das 18h, tem pizza artesanal (massa toda feita na casa, assim como os pães) a partir de R$ 40. As redondas são preparadas num forno elétrico a 400 graus. “Existe um mito em torno do forno a lenha”, garante Thacio Chaves.
Daí em diante, é se jogar numa das estreias da casa, a carta de burratas (do termo italiano “burro”, que significa manteiga), todas elas da Artigianale, fábrica artesanal de queijos italianos em Barbacena (MG). Elas chegam à mesa lisas, branquinhas, de sabor fresco e delicadamente ácido, de R$ 46,90 a R$ 68,90. Vá na que acompanha ragu de linguiça italiana com picles de cebola roxa. Bella!
Na ala das bruschetta, faz sucesso a de brie derretido com amêndoas em lasca e mel (R$ 35,90). A desculpa para mais um gole e meio de vinho.
Prontos para encarar o novo cardápio? “Ficou com mais cara de trattoria, comida saborosa sem frescura”, define uma cliente. Do chef Salvatori — que inaugurou a Parla! — restaram pratos, como à parmegiana, à milanesa com risoto de açafrão e o nhoque com ragu de linguiça. De novo, entrou uma leva boa, entre eles, o carbonara com camarão (R$ 69,90). Para quem quer evitar a culpa.
Além de saber tudo de vinho, Thacio Chaves entende do riscado e quer ampliar os negócios do grupo Tom Brands, que já toca o Futura Café na Barra (R$ 54 pelo café da manhã no bufê, durante a semana) e duas dark kitchens: Geral Pizza e Parmegianni, (ambas via iFood). Em breve, ele vai abrir o Esfumaçado, restaurante de galetos e carnes bovinas defumadas, no Cadeg. E também a Padelli em Ipanema, uma padaria italiana com sanduíches e pratos rápidos do Parla!
Nada de decepção, pois não tem o Tiramissu (“pretendemos voltar’), a decor do salão com estantes de madeira, uma adega de vidro, um conjunto de poltronas lindas e a playlist tocando baixinho “Tarantela” e Maria Bethânia são um show à parte. Isso porque o MIS ainda não abriu.
Rua Aires Saldanha, 98 – Copacabana. (21) 3439-9188.
Bruno Calixto é jornalista de gastronomia.