Em um país onde morrem, em média, sete mil crianças anualmente devido a espancamentos e maus-tratos, segundo a UNICEF, é uma pequena vitória ver meu livro sobre Educação Positiva se tornar best seller. É uma realização pessoal, claro, embora inesperada, mas me dá um respiro de esperança imaginar que mais e mais adultos estejam percebendo a urgência de mudar o paradigma de opressão da criança. Essa urgência precisa chegar a mais pessoas para que possamos causar uma mudança sistêmica na nossa sociedade, urgência essa que começou, para mim, há cinco anos, quando tive minha segunda filha. Estávamos morando na Suíça, meu país de origem, quando nasceu Nina, em setembro de 2017. Luca, meu primogênito, tinha 2 anos e 3 meses quando ela nasceu.
Eu estava muito determinada a fazer meu sonho de família feliz se realizar; finalmente eu teria a minha família dos sonhos: um marido e dois filhos para me encherem de amor e preencherem aquela necessidade insaciável de ser desejada e amada. Logo percebi, frustrada, que continuei não me sentindo completa, que minhas crianças não viviam para me amar. Eu despertei, então, da minha ilusão infantil e da projeção de que eles deveriam me fazer feliz e me completar. Doeu chegar a essa realização e cair no que chamo de “vale da sombra da morte”. Me tornei uma mãe triste, desesperada e muito brava com meus filhos.
Notei que eu não tinha tanto assim para dar a eles e que eles não poderiam me dar o que procurava. Briguei, gritei e castiguei. Fazia coisas que eu havia prometido jamais fazer com eles, pois eu sabia, por experiência própria, o quanto isso doía. Depois das minhas explosões raivosas, eu caía num arrependimento profundo, mas também não conseguia evitar a próxima explosão. Um ciclo violento sem fim.
Cerca de um ano depois do nascimento de Nina, apareceu um conteúdo sobre Educação Positiva no meu Instagram e enxerguei ali uma luz no fim do túnel. Aquilo me deu a sensação de poder salvar meus filhos de mim mesma. Li, ouvi, estudei e me aprofundei em todas as fontes disponíveis para transformar meu agir com meus filhos e comecei a ver mudanças sutis na nossa relação, o que me deu ainda mais vontade de continuar buscando esses conteúdos. Depois de um ano estudando apenas para mim, percebi que talvez esses conhecimentos, que foram tão úteis, poderiam servir para outras pessoas também. Então, em maio de 2019, publiquei o meu primeiro conteúdo sobre Educação Positiva na Internet. Nesses quatro anos, aconteceu a pandemia, nos mudamos de país quatro vezes, comecei a atender famílias e a vender cursos sobre Educação Positiva.
Aos poucos, foram chegando cada vez mais pessoas interessadas no assunto. Até o lançamento do meu primeiro livro, meus trabalhos aconteciam mais no meu perfil do Instagram, mas, após a chegada do “A Raiva Não Educa. A Calma Educa” nas livrarias, eu percebi como isso me abriu portas para furar ainda mais a bolha. Até então, chegavam a mim os interessados. Com o primeiro livro, comecei a alcançar pessoas que nunca tinham ouvido falar em Educação Positiva, por meio de podcasts, matérias, entrevistas e participações em programas televisivos.
Quando me perguntam se eu imaginava isso, a resposta é: “Claro que não! Principalmente por ainda existir uma crença social de que uma “palmadinha não mata ninguém” e que, se não bater na criança quando pequena, quando ela crescer, ela baterá em você. O meu segundo livro, “Pais Feridos, Filhos Sobreviventes e como quebrar esse ciclo”, veio para fortalecer ainda mais esse movimento lindo e potente da Educação Positiva na sociedade. Então, a cada artigo, matéria, podcast, rádio e programa de TV, eu comemoro. Eu vibro. Eu penso nos adultos que talvez estejam na mesma situação que eu estava há cinco anos, sendo desrespeitosa com meus filhos, me arrependendo cada vez, mas também não conseguindo mudar. E me agarro na esperança de que esses adultos possam, como eu, escolher a mudança do paradigma adultista que ainda rege a sociedade.
Na sexta-feira, dia 8, participarei da Bienal do Livro Rio pela primeira vez como autora. Encontrarei e abraçarei pais, mães e adultos comprometidos com a Educação Positiva. Encontrar pessoas que se identificam com essa causa me enche de ânimo e esperança. Alimenta em mim o sonho de que, em algum momento, talvez gerações para frente, uma mudança real acontecerá na sociedade, e crianças não precisem mais temer dentro de seus próprios lares. Enquanto isso, seguirei levando a mensagem para o mundo que pulsa dentro de mim. Nós não prosperamos na dor – prosperamos no amor.
Maya Eigenmann é pedagoga, educadora parental e autora dos livros “A Raiva Não Educa. A Calma Educa” e “Pais Feridos, Filhos Sobreviventes e como quebrar esse ciclo”.
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