Nasci no Leblon, estudei na UFRJ. Toda a minha formação e vida profissional foram no Rio, cidade onde sempre morei e amo. São Paulo sempre fez parte do meu trajeto de trabalho, congressos e alguns amigos. A cidade me encantou por sua diversidade, movimento constante, vida cultural e restaurantes excelentes. O Rio pra mim é liberdade, natureza e visual deslumbrantes; São Paulo, a modernidade, movimento, poder financeiro.
Em 2019, muitos pacientes de São Paulo começaram a me sinalizar o desejo de operar na sua cidade natal, motivados pelo conforto e praticidade da recuperação em suas próprias casas, claro que muito mais confortável do que hotel.
Decidi então me desafiar e abrir com o Evaristo (de Moraes), meu sócio, o consultório no Itaim. A partir dos 60 anos, todos os meus colegas estavam ou estão diminuindo suas atividades, reduzindo a carga de trabalho. Fui na total contramão: resolvi começar algo novo — e em outra cidade!
Com a experiência de mais de 12 mil casos operados, 4.600 face liftings, tenho muito a compartilhar. Fui realmente muito bem recebido em São Paulo e agora vou todos os fins de semana, dividindo o meu tempo entre cariocas e paulistas.
Abrimos o consultório em outubro de 2019 e, logo a seguir, veio a pandemia. Paramos por um período e retornamos, operando nas duas cidades.
Agora, depois de algum tempo, pude analisar com mais clareza as diferenças entre as pacientes. O cliente que me procura, não importa a origem, quer, antes de tudo, um resultado bem natural, rápida recuperação e solução duradoura. Mas o que é duradouro? Como dizia o poeta Cazuza, “o tempo não para”, e o nosso envelhecimento também não, apesar de todos os esforços e avanços da tecnologia.
Vejo em São Paulo as pessoas mais dinâmicas, com menos tempo para retornos e revisões.
Operamos, retiramos os pontos e, muitas vezes, devido aos seus compromissos e atividades, as pacientes nem retornam para um último olhar. No Rio, são bem mais exigentes — estão sempre muito disponíveis para retornar várias vezes, fazer o acompanhamento completo até a alta final, geralmente após o sexto mês. Sempre querendo ver o cirurgião!
Observo também em São Paulo uma qualidade de pele melhor, menos exposta ao sol, mais tratada e mais precocemente submetida a vários procedimentos estéticos, preenchedores, laser, estimuladores de colágeno etc… Algumas vezes, esses excessos podem, inclusive, dificultar e comprometer o resultado da cirurgia. No Rio, as peles estão mais envelhecidas, porém com menos procedimentos prévios.
No fundo, todo ser humano é igual: Rio ou São Paulo, carioca ou paulistano, todos procurando melhorar sem riscos, com segurança.
Essas observações e experiências foram muito positivas e estímulo para aprender a lidar melhor com as diferenças.
Acredito que Rio e São Paulo são cidades complementares, o que não tem em uma encontramos na outra e vice-versa. Tudo é Brasil.
Os desafios são os que nos motivam. Adorei ter me reinventado; sair da zona de conforto nos rejuvenesce. Tem sido um grande conhecimento pessoal, assim como das duas cidades.
Nunca é tarde para mudar o rumo e ampliar nossos horizontes.
Paulo Müller é cirurgião plástico, da escola de Ivo Pitanguy, com consultório no Rio e em São Paulo, atuando em ambas as cidades.