Como professor de Dermatologia e Cosmiatria na UFRJ e em meus cursos particulares para médicos, percebi que passar o conhecimento técnico é fundamental e também uma tarefa de responsabilidade para formação de futuros colegas com segurança para atuarem em suas carreiras. No entanto, toda subjetividade envolvida na Cosmiatria talvez seja uma parte muito menos tangível e também de extrema importância.
O que vimos, nesta última década, foi uma busca cega por padrões de beleza, de forma milimétrica, uma beleza calculada. O resultado são rostos iguais e falta de criatividade! A naturalidade também foi deixada de lado, a favor de uma beleza sem expressão. Medicina e arte podem andar juntas nesse sentido, pois existe um lugar em que só conseguimos acessar expressividade quando usamos nossa bagagem subjetiva adquirida com a vida e a experiência.
Não é novidade o comportamento humano buscar o senso estético comum. Como profissional diretamente em contato com essa realidade, enxergo isso como uma complexa dualidade para o paciente, que, muitas vezes, enxerga-se confuso com a grande oferta de procedimentos e intervenções possíveis num mundo extremamente visual. É necessário dizer alguns nãos que salvam, visto que nem todo procedimento é indicado para todas as pessoas, e sempre temos que buscar o mínimo de intervenções que tragam o máximo de resultados alinhados a expectativas realísticas.
Eu sempre digo para meus pacientes que, em todo procedimento, tem que existir uma motivação, não somente para que decidam por algo mas também o porquê; assim entendemos cada indivíduo num plano mais profundo. Às vezes, o que motiva alguém é um momento triste ou de dificuldade em sua vida. Um tratamento estético pode ser uma forma de materializar um autocuidado e melhorar a autoestima. Não há problema algum, no entanto, quando isso se torna uma necessidade, talvez esteja aí o perigo. É assim que tenho visto boa parte das pessoas buscando tratamentos estéticos por uma insatisfação moldada em uma realidade de que temos de ser perfeitos, produtivos e sempre felizes. É fundamental esse entendimento mais profundo para evitar todos esses exageros e bizarrices que temos visto.
Temos que parar de estimular padrões de beleza engessados e cabe também a nós, médicos, como parte importante envolvida nesse processo, reforçar a importância da individualização dos traços e a subjetividade do belo.
Eu prezo por uma dermatologia que seja mais integrativa com o processo de saúde deste órgão tão importante, que é a pele, e abrangente no sentido de entender as nuances dos processos do envelhecimento.
Victor Bechara é dermatologista, professor de Dermatologia e Cosmiatria na UFRJ, com consultório no Leblon.