Das 120 caixinhas modeladas, cada qual com uma microlâmpada, que, alternadas, criaram um jogo de luz e sombra imitando a cauda de um dragão ao sanitário com botões e luzes que deixa o banheiro com cara de pista de dança, nada no novo San Omakasse escapa ao “Ohhhh”!!! São apenas 40 m2, oito lugares (todos no balcão), menu degustação com hora para começar e terminar, uma seleção garimpada de peixes da costa brasileira (salmão, nem pensar!), harmonização com saquês premium e um show à parte cada vez que o chef serve uma de suas criações.
Agora some isso a 42 focos de luzes impressas em 3D, caixas de espelhos, pergaminho premiado pela Unesco e uma leva apurada de louças e utensílios de cozinha (uma frigideira quadrada bárbara) vinda do Japão, além da cerejeira na entrada, dos bonsais, tsurus, origamis das Kokedamas e do projeto assinado pelo arquiteto Gustavo Salles. O chef André Nobuyuki Kawai (embaixador do Sushi no Brasil e em Portugal) comanda o balé feito atrás do balcão no preparo dos sushis, acompanhado do sommelier Leandro Ishibashi. “Dos 220kg de atum, somente 5kg são da parte nobre”, diz o primeiro, enquanto prepara iguarias da culinária nipônica, como enguia e tamago. Atenção para o wasabi fresco, o saquê servido sobre um suporte com gelo!
Nenhum detalhe pode passar despercebido ali — um ponto fora da curva e que aponta para o que podemos categorizar como altíssima gastronomia. O mérito é do restaurateur Martin Vidal junto com o sócio Luis Mattos, que apostaram na exclusividade para acertar naquilo que definimos como único! No entanto, como tudo tem um preço, a experiência pode chegar a R$ 930, se harmonizado.
Peixes maturados e sobá no San original
Sobá, um lamen “diferenciado” (palavra terrível), caldo japonês com macarrão de trigo sarraceno, em vez de farinha de trigo. Mas o modus operandi é o mesmo: massa fina e comprida mergulhada no caldo à base de ossos e temperado, uma das novas apostas do San para aquecer o paladar e os corações ávidos pelo frio que, no Rio, é só uma ameaça. Com cardápio totalmente renovado, a casa de salão, balcão e varanda no Leblon inova também no seu carro-chefe, os niguiris, carinhosamente conhecidos como sushis. É que a grande novidade são os peixes maturados ali mesmo, intercalados com o que há de mais fresco vindo dos mares. E vamos ao desfile das beldades.
“Maturação seca é a melhor maneira de armazenar peixe fresco com segurança e responsabilidade. Dessa forma, é possível um aproveitamento de quase 100%”, conta o chef, que ingressou no mundo da maturação aos 27 anos, em 2018, no bajulado Imakay em Campo Grande (MS).
Cerca de 30% dos peixes do restaurante passam pelo processo de maturação bem na frente do cliente, à entrada do salão, ou no freezer de maturação ou na vitrine. “Isso significa também deixar os pescados livres de bactérias e impurezas.”
Quem assina o novo cardápio do San é o chef André Kawai, que detém o título de “embaixador do sushi” no Brasil e em Portugal, atual presidente da Nagoya Sushi School, uma escola de sushi na América Latina. Em suas receitas, uma mistura de tradição com toque regional.
“Vamos servir, por exemplo, a verdadeira raiz de Wasabi, fresco, além de uma carta de chás produzida por Elinda Satie Date, uma das mais premiadas do País”, diz.
Um capítulo à parte e que não foge à regra da estação mais fria, as sobremesas do chef pâtissier Cesar Yukio, formado em Gastronomia pela Universidade Anhembi Morumbi e L’Institute Paul Bocuse, mistura sabores nipônicos, brasileiros e de outras nacionalidades, como é o caso do choux lambuzado de doce de leite com missô. Impecável!
A carta de saquês segue a tradição orquestrada pelo sommelier Ishibashi Shiba, alguns deles servidos no elegante “balloon flute” de cristal. Pediu emprestado para o champagne, e ficou. Outra novidade é a recém-chegada máquina italiana, a la winematic, para servir a bebida fermentada de arroz em taça. Esqueça o copinho de madeira, já saíram de moda faz tempo.
E no mais, Omotenashi, que significa “cuidar com todo o coração”. E, claro, muito kampai!!!
Bruno Calixto é jornalista de gastronomia.