João Emanuel Carneiro está entre os filhos cuja herança materna interessa a milhões de pessoas. O perfil das incríveis vilãs criadas por ele não são inspiradas em sua mãe, que fique claro: Lélia Coelho Frota não era má, muito ao contrário disso, era ensaísta, poetisa, museóloga, historiadora de arte, antropóloga e personagem destacada na vida carioca, até quando morreu, em 2010. Na verdade, Lélia segue influenciando: sua coleção, herdada por ele, único filho, está na Casa Roberto Marinho, na exposição “A Criação do Artista Popular”, ou seja, sua força continua nos alcançando.
Sim, foi a cultura principalmente o que deixou para João Emanuel, isso é sempre lembrado a cada sucesso, como agora em “Todas as Flores”, líder de acessos na Globoplay, desde que a segunda parte estreou. Segundo críticos (como Patricia Kogut), ali está exposto o que o autor tem de melhor: a habilidade de criar um suspense no enredo central, além das incríveis canalhas-desprezíveis-sórdidas-monstruosas e, claro, irresistíveis, a ponto de fazer o público amá-las, desta vez, Zoé (Regina Casé) e Vanessa (Letícia Colin). Alguém aí não se lembra de Carminha de “Avenida Brasil”, demonstrando bondade suprema enquanto planejava matar?
Tanto talento que, por certo, deve deixar o autor com prestígio lustrado, a começar em casa, com o marido, o ator Carmo Dalla Vecchia, e o filho, Pedro. Esse é o JEC, aquele que, sempre aparentando uma certa timidez, sabe bem a diferença entre ostentação e sofisticação.
Leia sua entrevista:
UMA LOUCURA: “Morar no Rio é uma loucura, mas eu amo”
UMA ROUBADA: “Roubada é excursão de turismo. Tenho outra: ganhar um bonsai de presente. Precisa cuidar do bonsai, levar ao médico, regar duas vezes ao dia. Quando lhe deram o presente, não te contaram que você estava ganhando um filho.”
UMA IDEIA FIXA: “Fazer sucesso no exterior com uma série brasileira, assim como foi o caso de ‘Casa de Papel’ para a Espanha e ‘Round 6’ para a Coreia.”
UM PORRE: “O primeiro porre da minha vida foi na casa de um colega, no Segundo Grau do Colégio São Vicente. Bebemos até de madrugada, e eu invadi o quarto dos pais dele (que eu não conhecia), acordei o casal e pedi que eles desocupassem a cama para eu dormir. Fui expulso da casa.”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Minha frustração é nunca ter ido à Disney. Fui com a minha mãe pra Miami, e ela se recusou a ir à Disney, alegando que era um lugar “alienante e idiota”. Fui com ela conhecer o bairro negro e uma comunidade indígena na Flórida. Talvez minha mãe até esteja certa, mas estávamos ali pertinho…”
UM MEDO: “Tenho medo de palhaço; sempre tive, desde criança. Quando ia ao circo e via o palhaço, começava a chorar e pedia para ir embora.”
UM APAGÃO: “Voltando ao medo, tenho medo de escuro. Passei o maior perrengue na época daqueles apagões nos anos noventa.”
UMA SÍNDROME: “Não posso escutar ninguém descrevendo qualquer sintoma físico ou psiquiátrico, porque acho que sofro desse mesmo mal. Acho que isso é síndrome de alguma coisa.”
UM DESEJO: “Tenho uma enorme vontade de voltar a dirigir cinema. Comecei minha carreira dirigindo curta-metragem, comecei a fazer roteiros e nunca mais parei de escrever. Escrever é uma coisa muito cerebral e solitária; dirigir cinema é mais corporal, te põe no meio da galera.”
UM DESPRAZER: “Desprazer é quando você pega um risole pra comer, e é de carne. Risole podia ser só de camarão!”
UM IMPULSO: “De me atirar sobre os queijos — é minha comida preferida. Como um camembert inteiro como se fosse uma banana.”
Foto acima: Guito Moreto/Agência O Globo