Era terça-feira de manhã, dia 28 de novembro de 2016. Minha mãe me acorda com aquela trágica notícia de que tinha acontecido um acidente com o avião em que o Gui viajava. Falava do meu marido, com quem eu estava casada há 10 anos, o jornalista Guilherme Van der Laars, da TV Globo, um dos passageiros do voo da Chapecoense, indo pra Colômbia, que resultou na tragédia com 71 mortos. Acordei sobressaltada e, meio sem jeito, com aquela barriga gigante de 8 meses, do nosso terceiro filho, fui pro banheiro meio zonza, enfiei uma roupa qualquer, xinguei, esbravejei, gritei… Senti raiva, ainda sem acreditar no que estava acontecendo. Achei que estava tendo um pesadelo… Aquilo não podia ser verdade. Só depois de ter ido correndo pro trabalho dele, atrás de notícias, é que veio a confirmação. Segurei com todas as minhas forças a emoção – sabia que tinha de proteger meu bebê que eu carregava na barriga.
Depois de mais ou menos um mês, nascia o Gabriel. Lembro nitidamente o momento em que ele saiu de dentro de mim – uma sensação de felicidade e tristeza profunda de não ter o Gui ao meu lado, misturada com uma sensação de alívio, pois agora eu podia sofrer. A partir desse momento, eu não conseguia mais parar de chorar. Acordar pra mim era um sacrifício. Ouvir aquelas vozinhas doces dos meus meninos, então com 4 e 7 anos, é que me fazia levantar pro pesadelo em que a minha vida se encontrava.
Naquele momento, sabia que não podia deixar os meus filhos mais tristes do que já estavam. Ao mesmo tempo, minha empresa também precisava desesperadamente da minha presença, meus clientes me pedindo pra voltar, e todas aquelas pessoas que trabalhavam comigo há anos, precisavam de mim. Mais do que nunca, sabia da importância de alavancar minha empresa, dar o meu melhor, tanto pros meus filhos quanto pro meu trabalho. Juntei todas as energias que eu ainda tinha, sabendo que eu precisava me reerguer. E foi o que fiz. Era o meu sustento, não tinha mais a renda do Gui. Sabia que precisava fazer dar certo.
Três anos depois, quando as coisas pareciam melhores, o meu trabalho estava cada vez mais promissor, e a rotina com os meus filhos bem definida, a covid-19 surgiu no mundo.
O caos estava de novo na minha vida, mas, comparado à minha tragédia pessoal, tudo parecia pequeno! Sem em nenhum momento deixar de sofrer e ter compaixão pela tragédia coletiva. Mesmo com a nossa situação financeira abalada, revertemos parte da venda para comprar medicamentos e insumos hospitalares para um asilo. Fiz algumas singelas ações a favor de quem eu pude.
Apesar de ter sido um grande desafio, pedidos sendo cancelados, meu ex-sócio saiu bem no início da pandemia. Com muitas dívidas aparecendo, reuni a minha equipe e disse que eu não iria desistir. E assim foi: juntos conseguimos dar a volta por cima. Após 20 anos no mercado, fornecendo pra grandes marcas do Rio, como Maria Bonita Extra, Mara Mac, Ateen, Animale, Osklen e NK, eu me sentia confiante de seguir em frente, mais uma vez sozinha. Foi uma grande oportunidade pra dar mais atenção a minha própria marca. E assim, só no ano passado, abri três lojas próprias, uma no Fórum de Ipanema, outra na Ataulfo de Paiva, e mais uma no Rio Design Barra. E estamos com projetos em breve de expandir o mercado de São Paulo e do exterior.
Amo muito o que faço; acho que isso ajudou no meu processo de luto.
Ainda curando as feridas, mas refazendo a minha vida ao lado do Marcius, com quem me casei há um ano.
Carol Rossato, empresária, dona da marca com o seu nome, mãe de três filhos, viúva do Guilherme Van der Laars, uma das vítimas da tragédia do voo da Chapecoense. Atualmente casada com o empresário Marcius Costa.