Minha avó, neta de escravos, nascida no Morro de São Carlos, sempre dizia: “Coragem, minha filha, coragem!” Lembrei-me muito dela quando me joguei nesta nova fase: escrever e lançar um livro com uma história de mistério.
Então, vamos lá! Sou jornalista e relações-públicas com pós-graduação em Marketing e em Sociologia Política e Cultura, todas pela PUC-Rio. Tenho Formação Executiva em Marketing Digital pela Fundação Getúlio Vargas.
Trabalhei em vários órgãos da imprensa escrita carioca no setor de Moda, tais como: O Globo, ex- Editora Globo, Manchete e Jornal do Brasil. Além dos textos, fui sendo “suavemente” levada também para a produção de fotos.
O Plano Collor foi um divisor do meu caminho profissional – sempre amei cinema, ficção, personagens. Eu me via caindo totalmente dentro dessa área, no entanto, “a fonte secou”. Com filho pequeno e dificuldade financeira, me dediquei mais ainda ao figurino publicitário e aos desfiles que já vinham surgindo na minha rotina desde os anos 1980. Anos antes, havia cursado, em São Paulo, uma oficina com Madame Marie Rucki, do Studio Berçot de Paris. Suas aulas e dicas fizeram toda a diferença nos meus croquis e nas ideias de passarela.
As semanas de moda nos anos 1990 formataram um segmento de profissionais que, vindo de áreas diversas, criaram um interessante e promissor mercado. Eu estava pronta para participar; consegui produzir desfiles para algumas delas. Recebi propostas para viver em terras paulistanas, no entanto, mais uma vez, a família, meus pais idosos e os compromissos me deixaram aqui, pelo Rio mesmo.
No final dessa mesma década, fui para a TV Globo como coordenadora de Relações-Públicas e Eventos da Central Globo de Comunicação (hoje, a empresa tem uma divisão organizacional diferente). Era responsável pelos eventos externos e alguns internos relativos aos lançamentos. Novelas, séries, programas de entretenimento eram precedidos de uma grande festa, show e/ou coletiva para a imprensa. Nesse momento, o produto era apresentado a um determinado público formador de opinião. Participei também da montagem da estrutura das eleições eletivas de 2002 e de showcases para o Fantástico, como os do U2, da Mariah Carey e do Bon Jovi. Muito aprendizado: só trabalhei com gente fera. Um dia, enfim, fui demitida.
Voltei ao mercado de “free lancer”. Certa vez, meu amigo Sérgio Mattos me ligou. À época, ele estava começando a desenvolver a agência 40º Models. Visionário, Sérgio achava que modelos e futuros atores e atrizes que estavam no seu casting precisavam de um suporte nas mídias nacional e internacional. Dessa forma, aos poucos, foi montado um sistema interno de assessoria de comunicação. Havia fotos lindas, gente com histórias pra lá de interessantes e mil campanhas por vir. Pautas não faltariam. A agência embarcou. Essa experiência me ajudou, mais tarde, a assessorar algumas atrizes e marcas.
O cheiro do desafio, no entanto, me guiou para outras estradas. Como já havia participado dos Jogos Pan Americanos de 2007 na área de hospitalidade, em 2010 larguei o que vinha fazendo. Me joguei no mundo dos grandes eventos, com a energia para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Muitos eventos, gente de todo o mundo, idiomas diferentes, autoridades de todos os níveis.
Quando entreguei o relatório do Rio 2016, estava exausta e sem emprego. Tirei alguns meses para descansar, viajar, colocar a casa e a minha saúde em dia. Não me dei muito conta de que, depois que os grandes eventos se foram – algo que eu sabia desde sempre –, seria tão difícil retomar alguma ocupação. Se quisesse continuar no setor, teria que ir para a Rússia ou para o Japão. Mais uma vez, vivi o fim de uma bela caminhada. Dediquei-me ao estudo de línguas, me especializei em mídias sociais, conheci gente diferente e cheia de novidades. Contudo, o coração tinha um buraco a ser preenchido.
No começo de 2020, vi um tweet do jornalista Arthur Dapieve sobre uma oficina online de crônicas. Tomei coragem: me inscrevi e não parei mais. Isso foi pouco antes do início da pandemia. Depois, como não podíamos mesmo sair de casa, participei de outras oficinas de literatura. Foi como um gatilho. Meus contos eram lidos, corrigidos e comentados pela turma e pelo professor. Foi uma experiência de exposição que nunca vivi; afinal, sempre estive atrás de uma câmera, de um computador, contando as histórias dos outros, não as minhas.
Antes, eu jogava fora meus textos, apagava arquivos; agora, uma ficção que escrevi está prestes a ser publicada. Participei de uma seleção de originais em 2022 para mulheres cis e mulheres trans, da Editora Bandeirola de São Paulo. O tema poderia ser ficção científica ou mistério — embarquei nesse último. Tinha um conto curto, escrito há algum tempo, escondido em alguma pasta do meu computador. Resolvi usá-lo como sinopse. Minha história e mais uma foram as duas escolhidas entre outras, enviadas do País todo. Esses dois livros inauguram uma coleção especial chamada “Curta Bandeirola”.
Minha avó não leu Guimarães Rosa, que dizia “o que a vida pede da gente é coragem”, mas acertou!
Guiga Soares é jornalista, produtora de eventos e relações-públicas. No momento, está em processo de financiamento coletivo do livro “Um golpe na sorte”, pela plataforma da Catarse. A publicação parte de um pequeno susto para gerar apreensão num suspense inspirado em situações do cotidiano do Rio.