Desde que foi anunciado o projeto da tirolesa do Pão de Açúcar, as opiniões não poderiam ser mais distintas, para o sim e para o não. Nesse fim de semana, teve protesto na Urca contra a construção — com vários órgãos e associações —, e um projeto de lei foi protocolado, nesta terça (28/03), pelo deputado estadual Carlos Minc, para tentar impedir a obra. “Isso seria uma descaracterização de um monumento natural e, se isso acontecer, o Rio pode perder o título de Patrimônio Mundial pela Unesco, recebido em 2012”, disse Minc. No texto do projeto, dois pontos essenciais: tombar toda a área e congelar o volume das estruturas de concreto que já existem.
Nesta mesma terça, o Conselho Empresarial de Turismo da Associação Comercial do Rio se reuniu no hotel Windsor Marapendi, na Barra, para debater vários temas em volta da economia carioca, entre eles, a tirolesa. “No passado, o bondinho colocou o Rio e o Brasil na rota do turismo internacional. A tirolesa certamente não será a mais radical nem a mais rápida do mundo, mas certamente a mais bonita. Tenho certeza de que muitos turistas vão aumentar seu tempo de estada para poder aproveitar a novidade, gerando mais faturamento para hotéis, restaurantes e comércio em geral”, disse Sandro Fernandes, CEO do Bondinho Pão de Açúcar.
Também na reunião, Guto Índio da Costa, coordenador dos núcleos de design da Índio da Costa A.U.D.T (Arquitetura, Urbanismo, Design e Transporte), responsável pela construção do projeto que já foi apresentado e aprovado pelo Iphan, mas cujo anteprojeto deverá passar pela análise de outros órgãos. No entanto, ele esclareceu os pontos que estão causando algumas preocupações entre os moradores: “Há temores de que a tirolesa cause poluição visual e aumento de ruído e de trânsito. Posso garantir que os cabos são muito mais finos do que os do bondinho e serão imperceptíveis. Eles foram importados da Suíça e são extremamente lisos, justamente para reduzir ao máximo o ruído do atrito. Por fim, os problemas de tráfego da Urca são decorrentes da condição natural do bairro, e não será um pequeno aumento de visitantes que causará mais engarrafamentos”.
O assunto está quente em grupos preservacionistas e ambientalistas nas redes, que têm divulgado um texto do economista Sérgio Besserman Vianna, presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que diz: “A ideia da tirolesa está na contramão da história, não pelo projeto, de excelente qualidade, nem pela concessionária de aumentar atrações e retorno, o que é legítimo. Mas porque todas as cidades protagonistas da revolução sustentável têm ações de renaturalização (Berlim chega ao ponto de toda a cidade estar recuperando a fauna local). Sendo assim, o Rio trocaria uma paisagem natural iconográfica por uma construção, ou seja, na contramão”.
E continua: “Viva a tirolesa, as tirolesas! Viva atrações e construções sustentáveis e cheias de natureza nos parques urbanos, mas não na paisagem do Pão de Açúcar ou em outras paisagens simbólicas do que é o Rio. Seria um péssimo negócio para o Rio”.